Os vendedores de tamboretes

Durante as férias, meu amigo Leandro e eu saíamos todos os dias para vender tamboretes. Empurrando um carro de mão pelas ruas de João Pessoa. Eu ia para ajudá-lo. O material era do pai dele, que já pegava de seu Paciência, um marceneiro amigo de nossos pais.

A gente saia pela manhã e voltava lá pelo meio-dia. Nós revezárvamos empurrando o carro, mas na hora de grita, era minha tarefa. Eu gritava: "Olha o tamborete. Tem pequeno, médio e grande. E já estão acabando". Acabando que nada, não tínhamos vendido nenhum. Na verdade, só me lembro de ter vendido um em nossas andanças.

A gente saia dos Ipês e ia empurrando o carro e andava até dar dor nas pernas. Nosso destino era Mandacaru, Torre, Bairro dos Estados, Treze de

Maio e Roger. Talvez você não conheça o bairro do Roger, mas eu te digo que ele não é o mais indicado para passear por suas ruas empurrando um carro cheio de tamboretes. As ruas são todas enladeiradas. Mas não ladeiras normais. São praticamente paredões em que a gente subia quase se arrastando.

Enquanto muitos outros colegas de escola e meninos do bairro estavam se divertindo, nós estávamos pegando pesado. Bem, nem tão pesado assim, porque sempre que víamos uma boa árvore a gente parava para se refrescar. E assim íamos de árvore em árvore. Foi uma lição importante para as nossas vidas. O dinheiro não vem fácil. Não cai do céu, a gente tem que batalhar para consegui-lo.

Infelizmente, muitos meninos e meninas da nossa geração, colegas de escola e vizinhos, não tiveram a oportunidade que tivemos. O trabalho, por mais simples que seja, tem uma lição para nós dar. Nos faz crescer. Outros colegas que riam da gente pelo fato de estarmos empurrando um carro cheio de tamboretes em pleno sol, hoje viraram lápide. Se fosse possível voltar no tempo, fazia tudo de novo. Só levava uma garrafa d'água dessa vez, porque não vender nada e ainda te negarem água, é desestimulante para caramba.