Traído pelo computador

Acho que o ano era 1998, eu tinha onze anos, e na minha escola passou uns rapazes fazendo propaganda de uma escola de informática. Eu confesso que nunca tinha visto um computador na vida, mas implorei a pai para que ele pagasse aquele curso para mim. E ele pagou.

 

Não sei dizer agora o endereço da escola, mas era por trás da federação paraíba de futebol. E o professor era um jovem chamado Messias. Aqui vou só abrir um parêntese para falar a coincidência; quatorze anos depois do meu curso de informática, eu encontrei o professor Messias durante uma entrevista de emprego. Eu era o gerente e estava contratando vendedores. E o mais inusitado, foi ele que se lembrou de mim. Fechando parênteses.

 

Não fiz amizade com ninguém do curso. Também pudera, era apenas uma criança. Sentava ao lado de alguém, mas nem lembro se era outro menino ou uma menina. O que me lembro é do primeiro dia. A primeira vez que eu liguei um computador e senti mouse.

 

Lembro-me do assistente virtual que era um clipe ou um cachorro ou um mago. Quem se lembra disso? Fazíamos perguntas e eles tiravam as nossas dúvidas sobre os programas.

 

Também me lembro de que o computador que eu usava tinha um jogo. Na verdade eu não sabia o que era jogo ainda, mas já fui apertando. Era interativo. Eu apertava alguma opção e o jogo mandava fazer alguma outra atividade. Teve uma etapa em que ele me ofereceu uma lista de interesses para que pudéssemos brincar. As opções eram: futebol, atualidade, televisão , mulheres. Claro, que como todo adolescente, eu escolhi mulheres. E foi ao que começou a maior sessão de vergonha pública que eu já tinha passado até então.

 

O computador começou a gritar Tarado! Aqui tem um tarado. Uma luz vermelha e o som de sirene, tudo simultaneamente, durante a aula.

 

A turma toda riu. O professor Messias riu. E eu ri para não chorar.

 

George Barbalho
Enviado por George Barbalho em 28/08/2024
Reeditado em 28/08/2024
Código do texto: T8139223
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