Mais uma vez

Que fique registrado nos anais da história que após a internação no hospital Santa Teresinha, em Sousa, com direito a três dias de UTI e três de apartamento, no dia 23/08/2024 sofri nova internação, dessa vez no hospital HNSN, em João Pessoa, onde ainda estou sem precisão de alta.

 

Motivo? Da primeira internação foi desidratação, agora, foi pneumonia. Como o meu heart ( coração em inglês) é peculiar, uma unha encravada altera todo o meu ecossistema, e para recuperar, só com atenção médica.

 

Aqui no HNSN sou um paciente relativamente conhecido. Já são três internações e isso cria laços, por maior que seja a rotatividade do pessoal, sempre encontro uma carinha conhecida na multidão de jaleco branco.

 

A técnica em enfermagem, dona Francisca, é uma figura. Sertaneja do Triunfo, não passa um milésimo dos 1,50. Para se ter uma ideia, todos os dias ela me leva para pesagem. Por ser protocolo, vou de cadeira de rodas. Numa dessas vezes, enquanto ela me conduzia, um dos seguranças saiu correndo atrás da gente pedindo que eu parasse. Ele pensava que eu estava fugindo. Do ângulo que ele me viu, dona Francisca estava totalmente escondida atrás de mim, e olha que eu estava sentado na cadeira de rodas.

 

Hoje a tarde revi a técnica em enfermagem Ângela, uma testemunha de um fato sinistro que aconteceu em minha segunda internação, lá em 2022.

 

Havia um paciente chamado Fernando. Por questão de privacidade vou "sobrenomeá-lo" de Del Vaca, mas se você é muito curioso e quiser confirmar a minha história, substitua a Vaca por seu equivalente masculino e pronto. Irás encontrar o perfil e informações sobre este paciente.

 

Então, ele já estava internado aqui antes de mim. Quando o vi, através da cortina, fazendo fisioterapia, tive a sensação de o reconhecer. Para mim, ele era o famoso diretor do filme A forma da Água. Comentei com a enfermeira Ângela e ela só falou que ele era famoso. Mandei uma mensagem para minha esposa dizendo que Guilherme Del Toro era meu parceiro de quarto.

 

Maldita internet. Maldita! Não deu cinco minutos minha esposa mandou uma foto do cineastas na Espanha participando de algum evento. Não era o Del Toro que eu imaginava. A coincidência do destino me fez dividir o quarto com outro Del Toro, é brincadeira!!??Que coincidência era essa?

 

Falei com ele. Contou- me que era professor de literatura. Contei-lhe que também era professor de história e de matemática. Ele achou bastante excêntrico. Lamentou não ter nenhum dos seus livros para me presentear, já tinha entregue todos. E nesse bom portunhol conversamos por uma hora, até que eu consegui um quarto individual. É aqui que a coisa fica séria.

 

Parece que o homem estava sem se alimentar devido a um exame. Mas chega uma hora em que a fome come até o nosso cérebro e não teve jeito. Seu Fernando pirou o cabeçote. Começou a gritar. Esmurrar as paredes de drywall. Quebrou os vidros das portas as cabeçadas. E gritava: estou com fome! Com fome!

 

Os seguranças foram os primeiros a correr. Dos médicos não se via nem a cor dos jalecos. Ficaram as técnicas, que avançaram em grupo, de forma coordenada, como um bando de focas enfrentando uma orca, gorda, peluda e pelada, ele jogou a bata para longe.

 

Ele correu pelo corredor e empurrou a porta do meu quarto, mas eu já havia colocado a cama travando-a e me escondi. Bastaria mais um ou dois minutos para a paz ser reimplantada, graças a bravura das técnicas de enfermagem. Parecia impossível, mas a promessa de um prato de comida o acalmou.

 

Esse dia entrou para a história. Até hoje é comentado entre os funcionários. Até aqueles que chegaram depois sabem do incidente e me citam como testemunha ocular.

 

George Barbalho
Enviado por George Barbalho em 26/08/2024
Reeditado em 28/08/2024
Código do texto: T8137590
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