Rossi, o cafajeste 

Rossi era um cafajeste, como ele mesmo afirmava. Carlos Alberto era seu nome, Rossi veio em virtude das imitações de voz e trejeitos do rei do brega. Dizer que a sua voz era parecida com a do Rossi original era o mesmo que lhe dar o Oscar.

 

Garçom, coração que voa como avião, Raposa e as uvas, eram clássicos que cantava a lapela com os olhos fechados e o dedo indicador fazendo a marcação do tempo no ar de cada frase. Mas tanto fazia cantar de olhos fechados ou abertos. A diabetes roubou a luz. Cantava igual o Assum preto. Na voz a doença não buliu. Só nos olhos e nas pernas.

 

O que tinha sido um homem de um oitenta, em cima da cadeira de rodas restava basicamente só um tronco com braços e cabeça. A canção era o seu abrigo. Nunca o ouvi cantando outra música senao o brega de Reginaldo. Cada um que o cumprimentava ele devolvia chamando-o de Cafajeste.

 

Vez por outras eu lhe fazia algum pequeno favor. Ele me retribuia com um pacote de bolacha de chocolate que ele sabia que eu gostava. Não receber era o mesmo que dizer que não iria mais lhe fazer favor, por isso sempre peguei a recompensa e consumia ali mesmo na sua barraca ouvindo ele contar as suas histórias.

 

Namorador que só ele. Não sei nem falar a quantidade de damas que frequentava a sua alcova. Num desses encontros sentiu as veias do seu corpo estourar, os órgão não suportaram , tudo parou. Nem o SAMU chegou a tempo. Morreu na cama ao lado de uma mulher que nem seu pagamento lhe deram.

George Barbalho
Enviado por George Barbalho em 24/08/2024
Reeditado em 28/08/2024
Código do texto: T8136136
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