Sábado era dia de feira
Quando eu era criança meu pai me levava à feira de Madacaru, nos dias de sábado, pela manhã. A feira fica entre os bairros dos Ipês dos ricos, bairro dos Estados dos ricos e o bairro de Mandacaru dos pobres. Não me lembro se funcionava todos os dias, mas o dia de sábado era o grande dia.
Dentro da parte coberto do mercado ficava a área reservada aos grãos e cereais. Na parte externa ficava as verduras e frutas. Minhas irmãs tinham banca na parte externa e outro irmão tinha um box de carne. Para mim aquilo era uma festa. Muita gente. Bancas cheias. Os vendedores gritando os preços dos seus produtos. Senhoras com suas sacolas e carrinhos passando de banca em banca. A polícia fazendo a sua ronda. Cachorros feitos a peste e um vendedor de picolé fazendo propaganda enganosa dizendo que todos os picolés tinha o palito premiado. Eu comprava toda vez e nunca peguei um premeado em mais de três anos que frequentei a feira.
Do lado da banca das minhas irmãs tinha enorme setor que vendia banana. Era muito grande, acredito que só de banana tinha mais umas vinte bancas. Eu pensava intrigado como era que eles vendiam tantas bananas num único dia. O mesmo era com as melancias e macaxeiras inhames e outros itens. Era um mundo de alimento com dezenas de bancas vendendo os mesmos itens. As vezes eu tinha pena. Como vender algo que todo mundo também está vendendo? Mas aparentemente funcionava já que era comum ter avós, pais e filhos tomando conta de saus bancas. Se o negócio estava passando de geração em geração é porque estava dando certo.
Foi nas bancas que eu aprendi algumas frases engraçadas para auxilar nas vendas. Aquilo era uma escola. As frases eram batidas e cafonas mas na época eu achava o máximo: "Moça bonita não paga, mas também não leva." Um é cinco, dois é dez e três é quinze". "Chega e vem para cá que já está acabando", mas que nada, as mercadorias tinham acabado de chegar. O mais engraçado era quando passava uma senhora e eu gritava: Ovo e uva boa! Papai e Louro chega riam. Claro, na época eu era uma criança e só repetia o que via meus sobrinhos mais velhos fazendo.
Depois papai me arrumou um carrinho e passei a fazer frete. Coisa pequena. Alguns amigos de papai que precisassem de uma ajuda para levar a feira para casa eram os meus principais clientes. E também eu não ia para muito longe. Ganhava uns 15 reais por sábado, acho que hoje dava uns 80 reais. Nessa época, tinha outros amigos da escola que também pegavam frete. Era uma frota e cada um já tinha os seus clientes fixos. Dia desses encotrei um colega de escola que ainda pega frete como na época em que eramos crianças. Ele não me reconheceu: "Quer um frete, chefia?" Olhei para ele e sorri. Eu só estava cruzando a feira para ir para casa de outro amigo.
Foi na feira que aprendi a passar troco, a fazer uma multiplicação simples de cabeça, a contar dinheiro, e foi o meu primeiro exercício de responsabilidade. Acredito que era isso mesmo o que papai queria que eu aprendesse.