A Casa dos Ipês
Confesso que agora não sei o que meus pais estavam pensado quando resolveram trocar a nossa casa do Renascer pela casa dos Ipês. A casa do Renascer era uma casa já a dos Ipês era quatro paredes de tijolos sem reboco, com chão de barro e buracos no teto.
A primeira vez que fui ao banheiro dava para ver a rua, inclusive dava para as pessoas da rua nos ver , se quisesse nós cumprimentar enquanto defecávamos, nada a impediria. Claro que pai rapidamente tampou o buraco. Colocou um papelão.
A porra da casa era tão frágil que era capaz de um cachorro se aproxima para urinar e a porta cair sobre ele.
O quintal tinha um matagal e também uma cocheira de cavalo onde eu e a minha irmã brincávamos de se esconder.
A casa toda fedia a bosta de porco e galinha. Mamãe passava o dia aguando o chão com creolina para matar a infestação de bicho de pé. Só na minha irmã, em um dos pés, papai tirou 37 sacos de bichos de pé. Em Cil, meu sobrinho mais novo, nasceu bicho até nos testículos.
Na frente da casa era o ponto de coleta do lixo. O caminhão passava dias vezes por semana, mas só bastava o caminhão passar que já tinha gente jogando seu lixo na frente da nossa casa novamente.
O esgoto era a céu aberto e parecia o rio Amazonas. Beirava a porta da nossa casa. E quando chovia era uma inundação sem fim.
Meu irmão, que já era policial e ainda morava com a gente matava os ratos com tiro no quarto dele. Para você ver o tamanho e a quantidade de ratos que havia em nossa casa.
Claro que aos poucos tudo foi se organizando. Minha mãe, sempre caprichosa, e usando o lema "A limpeza Deus amou" arrumou tudo. Moramos lá una 15 anos e quando saímos a casa não era nem lembrança daquela em que fomos morar.