O quarto do morcego
A escola onde estudei o meu ensino fundamental era pequena, embora o terreno fosse grande. Tinha as cinco salas e a parte administrativa. Na parte da frente tinha um salão com dois grandes bancos onde esperávamos antes da campanha tocar a entrada. Mas tinha um outro cômodo, que talvez poucas pessoas o conhecessem: era o quarto do morcego.
Meu pai falou sobre o quarto do morcego logo no meu primeiríssimo dia de aula, ainda na alfabetização. Apontou para cima da escola e me disse que era lá para onde o os alunos bagunceiros. Reforçando essa ideia, seu Agenor, que era o vigia da escola, arrebentou: todo dia eu levo uma criança para o morcego chupar o sangue. A sentença estava dada: nunca que eu iria para o quarto sombrio.
Demorou muito tempo para que eu soubesse que o quarto do morcego era a caixa d'água da escola. Mas o meu comportamento já estava moldado. Fui crescendo e sempre que exagerava em alguma brincadeira, seu Agenor olhava para mim e apontava para o quarto do morcego. Ele sabia que eu não tinha mais medo e que já sabia a verdade, mas sempre de fazia questão de apontar.
Mais tarde, eu descobri que seu Agenor era o pai da minha professora de teclado, e já idoso, quando eu relembrei a história do quarto do morcego ele riu de chorar.