Hora do Lanche

Todos os dias, sagradamente, todos os dias, eu ficava à tarde na frente da minha casa, por volta de umas 16h esperando, melhor dizendo, vigiando, Seu Manoel e Seu Basto passarem. Era eu e uma trupe!

 

Eles eram vendedores ambulantes. Seu Manoel vendia suco em garrafinha e Seu Basto vendia sorvete de casquinha. De um ano com 365 dias, talvez em 364 tínhamos o lanche garantido.

 

Seu Basto quando dobrava a esquina já vinha balançando o sininho do seu carrinho de sorvete. Parecia o experimento de Pavlov. "Seu Basto, tem um sorvetinho para gente?" Nunca, mas nunca nos negou. E nem nos cobrou um centavo sequer.

 

Seu Manoel era o segundo a ser abordado. A gente o seguia. Entrava pelo beco e no quintal da sua casa recebíamos cada um a sua garrafinha, ainda gelada, e íamos tomar na rua, sentado na calçada. Geralmente era um suco de cajá ou manga ou maracujá.

 

Teve uma época em que pai se aventurou em fazer um bolo que ele chamava de Cuscuz Baiano. Hoje, sempre encontro nos cafés dos shoppings sob o nome de Bolo de tapioca.

 

Ele deixava a gente contar as moedas que ele ganhava com o que vendia, e depois da contagem era a hora do lanche. Como era gostoso.

 

Pai e Seu Manoel já partiram. Seu Basto acho que ainda está vivo. Obrigado pela partilha mesmo tendo tão pouco.

George Barbalho
Enviado por George Barbalho em 12/08/2024
Reeditado em 12/08/2024
Código do texto: T8127417
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