Dez anos sem televisão
Durante boa parte da minha infância não tivemos televisão em casa. Não foi por questões financeira. Foi uma decisão de nossos pais. O aparelho que tinhamos vendemos por uma bagatela a Graça de Major. Foi uma decisão religiosa. Como já lembrei, meus pais se tornaram evangélicos quando eu tinha uns sete para oito anos. Como eu e minha irmã já éramos alfabetizados, ganhamos uma Bíblia cada um. A minha, me lembro como se fosse hoje, ganhei do irmão Ozias. Já era usada. Mas não liguei. Só não a tenho até hoje porque eu esqueço no banco da igreja e nunca mais a vi.
E o que a televisão tem a ver com o fato de nós tornarmos evangélico? Bem, éramos da Assembleia de Deus, uma das igrejas que, na época, possuia uma das doutrinas, duramente impostas aos fiéis, mais rígidas, talvez só perdendo para a Deus é Amor. Isso na época, contextualizando os fatos, era o começo da década de 90. Hoje o que mais vemos são escândalos sexuais e financeiros explodindo diariamente, virou moda. Para se ter ideia, poucos anos antes de nós tornarmos evangélicos era proibido o uso de sandálias havaianas pelos fiéis. Como dizia uma gíria de crente: "O negócio era estreito."
Sim, e a televisão? Bem, a televisão entretinha, e um crente entre entretido com as coisas do "mundo" não ler a Bíblia e nem ora o suficiente. Então papai decretou: "Em minha casa não entra mais televisão." E foi feito durante 10 anos.
O lado bom era o tempo livre que tínhamos. Brincávamos dentro de casa e no quintal, mas sempre reservando quase que a mesma quantidade de horas para estudar os assuntos da escola e ler a Bíblia. Nos liamos a Bíblia sozinhos, eu lia com papai e a noite, quando não havia culto, ainda a líamos em família.
Hoje meu núcleo familiar é católico. Sou catequista de criança em minha paróquia e minha esposa é ministra extraordinária. E quando me lembro desses anos da minha infância, digo com saudade, que nada faria diferente se pudesse voltar no passado. Foi um período de grande aprendizado.
Agradeço a papai, que já partiu , e a mamãe, que ainda posso abraçá-la.
Dia de almoçar fora- https://www.recantodasletras.com.br/memorias/8123749