Dia de almoçar fora

Quando criança, o melhor dia do mês era o dia do pagamento do governo. Imagino que também fosse um dia feliz para meus pais. Mas para minha irmã e eu era o dia em que íamos passear e isso incluía almoçar fora.

 

Na década de 90 o sistema bancário era ainda meio que infantil. A única coisa que tem em comum com o atual são as filas, de resto era bastante diferente.

 

Em primeiro lugar, pai não ia ao banco, ia diretamente ao Comando Geral da Polícia Militar. Lá, tinha um funcionário do banco, sentado num banco, fumando um cigarro e do lado dele uma caixa de televisão cheia de dinheiro. Esse era o Paraiban! Mais tarde, foi privatizado durante o governo de Zé Maranhão e virou o banco Real e por aí foi... Nem sei que banco ele virou depois.

 

Com o dinheiro no bolso, e já perto da hora do rango, todos íamos a pé para uma rua perto dos Correios e lá almoçavamos. Não era em restaurante, não. Havia algumas barracas que forneciam refeições o dia todo. Pegávamos uma mesa para quatro e fazíamos o pedido aos gritos mesmo. Nada de menu. No máximo um papelão mal-escrito indicando o prato do dia.

 

Geralmente eu pedia feijão, arroz, macarrão e galinha assada. Era a única vez no mês em que comíamos fora. Era uma verdadeira festa. Foi nesses almoços que aprendi a comer de garfo e faca, foi quase que uma imposição de papai, que achava horroroso comer de colher.

 

Tenho quase certeza de que as barracas de comida daquela rua não existem mais. Faz bastante tempo que sequer passo por perto de lá. Algum governo deve ter as ter escondido dentro de um desses shoppings populares, foram condenadas ao ostracismo, ficando só nas memórias.

George Barbalho
Enviado por George Barbalho em 07/08/2024
Reeditado em 07/08/2024
Código do texto: T8123749
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.