Minha época de escola

Da alfabetização até a oitava série, eu estudei na mesma escola. A Escola Municipal Ubirajara Pinto Rodrigues, na comunidade dos Ipês. Era uma escola pequena e aconchegante, infelizmente, foi bem no período que estava surgindo as gangues Okaida e os Estados Unidos, e isso deixava as coisas meio que perigosas.

 

Eu ainda não percebia, mas já havia uns carinhas vendendo drogas na porta da escola ou no outro lado da rua. Isso durante os turno do dia. À noite, nem sei como era. Nos ano noventas, pré-internet, os professores ainda tinham respeito, e o nosso diretor Braz era respeitado. Lá pela sexta séria a nossa professora de história era uma delegada, Juvanira Linhares, parece que isso intimidou um pouco a bandidagem dos arredores da escola. Mas não os afastou de vez.

 

Meu pai era um policial aposentado e meu irmão mais velho também era policial, isso de certa forma me blindava das investidas dos criminosos. Por outro lado, minhas amizades nunca envolviam alguém que estava relacionado com o crime. O point era a quadra de esportes da comunidade. Nunca nem trisquei os pés por lá. Leandro ainda ia, mas se envolvia apenas com a bola. Ele foi uma das poucoquissímas criança que frequentava aquele ambiente e não puxou cadeia, o resto, ou está preso ou já partiu para o além.

 

Conversando com Leandro uma vez, chegamos a contar mais de 50 crianças e adolescentes da nossa época que entraram para a bandidagem e consequentemente morreram. Outros morrem em decorrência do vício, infelizmente, o cobrador nesses casos não conversa muito.

 

Lembro-me de crianças no meu bairro antigo, que quando eu tinha 12 anos, eles ainda usavam fraldas, mas que já morreram. Lembro-me de crianças que, por coisas de crianças, brigamos na rua, inclusive eu o machuquei com um murro, qual criança nunca brigou na rua por causa de banalidade? Então, depois eu soube que ele havia assumido o tráfico local e que já tinha inclusive mortes nas costas.

 

Uma vez, na fila para beber água, um garoto maior furou a vez e começou a beber desrespeitando todos. Eu saí do meu lugar e o empurrei dizendo que se ele quisesse beber água que fosse para fila igual a todo mundo. O silêncio imperou. O rapaz saiu e alguns amigos já correram para me informar que aquele cara era um marginal do outro lado da comunidade e que tinha ido pegar uma arma. Confesso que tive medo. Parece que no meio do caminho falaram do meu pai para ele e aparentemente desistiu de fazer o que quer que fosse contra mim.

 

Meu pai semanalmente ia à escola, quando não duas vezes. Falava com o diretor, com os professores, com os porteiros seu Madaleno, seu Agenor e Anísio. Nunca deixou brecha para que as garras da criminalidade me alcançassem, nem a mim e nem a minha irmã.

 

Meu velho se foi em 2002, e faz muita falta.

George Barbalho
Enviado por George Barbalho em 06/08/2024
Reeditado em 07/08/2024
Código do texto: T8123231
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