As lendas de Cabo Frio e da Fazenda Campos Novos
Toda cidade histórica, como Cabo Frio, além de possuir um vigoroso acervo histórico material, também possui um rico patrimônio cultural imaterial, como festas, lendas, mitos, festejos, etc. Uma das provas que demarca bem isso é saber que Cabo Frio tem um farto conjunto mítico e lendário, como a belíssima história do herói mítico tupinambá Sumé, com seu trono, no Morro da Guia. A lenda da estátua de Nossa Senhora da Guia que subia o Outeiro do Tairu (Morro da Guia) toda vez que a desciam e a colocavam no Convento Nossa Senhora dos Anjos, como a famosa lenda do túnel atras do mesmo Convento, que levava os frades franciscanos até o topo do morro, local também que esconderam tesouros, ou ainda, que é mal-assombrado, é outra questão mítica que marca a história local.
Ainda temos a lenda envolvendo a troca da imagem da padroeira da cidade, que era Santa Helena, depois passou a ser Nossa Senhora da Assunção – a cultura e a religião unidas no contexto histórico de um município.
Essa história é contada com entusiasmo por guias de turismo e muitos paroquianos da Igreja Matriz, os quais dizem que, ao pedirem ao rei de Portugal a imagem de Santa Helena, o verdadeiro orago (padroeiro), veio, erradamente, a estátua de Nossa Senhora da Assunção. A população, então, pediu ao monarca que recebesse de volta a imagem e que fosse enviada a correta. Mas, toda vez que a embarcação partia para Portugal com a estátua para fazer a troca, pegava fortes ventos e tempestades ao ponto de que a população entendeu ser da vontade de Deus a mudança da santa padroeira, ficando, assim, Nossa Senhora da Assunção no lugar de Santa Helena. Esta última, dava nome à cidade, que se chamava "Santa Helena do Cabo Frio", em 1615, ano de sua fundação.
Como no próximo domingo, dia 10 de setembro, irei realizar um Tour Histórico na Fazenda Campos Novos, no Segundo Distrito do município, me lembrei de três histórias da tradição oral, muito fortes no imaginário dos moradores do Distrito de Tamoios.
A primeira dessas histórias fala que os jesuítas pouco antes de serem presos – e, de fato, foram –, em 1756 (os padres Atanásio Gomes e Diogo Teixeira, além do irmão Manuel Francisco), foram acusados de atividades revolucionárias, roubos, falta de religiosidade e até atentado sexual. Eles, então, com a ajuda de dois escravos, enterraram a imagem de ouro maciço de Santo Inácio, para escondê-la de seus algozes, depois mataram os escravos, a fim de não revelarem o local onde esconderam o tesouro.
Na quarta-feira passada, dia 06/09/2023, ouvi de um dos seguranças da Fazenda que um dos Guardas Municipais iria comprar um aparelho detector de metais para que, no dia de seu plantão, ele mesmo procurasse esse tesouro. Muita gente, especialmente os mais antigos moradores de Tamoios, acreditam, piamente, nessa história e que essa estátua, um dia, será encontrada com outros tesouros. Essa lenda gerou danos irreparáveis na sede da Fazenda, como a retirada de seus pisos do final do século XVII, para tentar encontrar esse tesouro.
Outra lenda bem conhecida e difundida pelos habitantes de Tamoios é a de que existia um túnel que saia da Igreja de Santo Inácio, anexada à Casa Grande, e ia até o curral, com intuito de ser uma rota de fuga de emergência dos padres jesuítas. Alguns importantes pesquisadores da História cabo-friense, como o amigo, Carlos Vermelho, afirma que de fato essa história é verdadeira.
A terceira história mitológica afirma que as escrituras da Fazenda pertenciam a Santo Inácio e que estaria em seu nome, ficando cravada nos pés, dentro do templo, mas que alguém a furtou. A partir do ocorrido, teve início às grilagens das terras da Fazenda.
Nada melhor do que, ao se contar a História científica e verossímil de um Monumento Histórico ou lugar, também inserir as lendas da tradição oral, não é mesmo? Nosso conhecimento amplia cada vez mais.
Obs.: Texto escrito em 9 de setembro de 2023, um dia antes do Tour Histórico na Fazenda Campos Novos, realizado pela Lagos Ecotur.