Alexandre, o Grande e sua campanha na Pérsia: a batalha de Gaugamela
Deserto do planalto iraniano, 331 a.C.
Alexandre já havia travado várias batalhas com o rei Dario, que era o rei supremo da Pérsia em sua maior extensão territorial.
Antecedentes:
Alexandre reuniu-se em seu quartel para discutir a plausibilidade da batalha em Gaugamela. Seus generais, já com as frontes esgotadas e feridas, não mostraram muita disposição para o que estava acontecendo diante de seus olhos. O teatro de guerra estabelecido: haviam deixado famílias na Grécia e lutado em muitas batalhas para além da Capadócia, já ultrapassando limites conhecidos, através dos quais nem mesmo Hércules ou Aquiles ousariam passar.
De fato, Macedônia era algo muito pequeno diante da grandeza do mundo. Mas o sonho de Alexandre, não. Não era uma questão de poder ou território, sobremaneira. Era por uma causa maior: pela honra! A Grécia era a luz do mundo, como outrora fora o Egito. Da Grécia veio o pensamento, a única forma de honrar a força que se tem.
E Alexandre defende uma visão fatalista diante de seus oficiais: agora não há retorno. Incitamos a fúria do mundo, por lutarmos sozinhos contra ele. Nós somos a última resistência: a esperança do mundo!
E mesmo não parecendo animador ter que enfrentar o exército persa, Alexandre sabia que a sua casa era outra. A Grécia estava corrompida por suas cidades-estado conflituantes; jamais seria grande novamente diante do novo mundo que se impunha.
Seu sonho era trazer o reino de paz, mas a paz não vem sem a guerra. E essa é a sua inspiração final: não há o que temer. Um homem nobre não vai deixar de fazer o que precisa fazer para sobreviver em sua nobre causa. Se ele tiver 1% de chance, é o 1% que lhe interessa.
Mesmo com a desavença de Parmênias e Cassandro, generais relacionados ao seu pai, Alexandre seguiu tenda por tenda do acampamento, conversa a conversa, a fim de inspirar os seus homens.
O dia da batalha: 1 de Outubro:
40 mil macedônicos atravessam o planalto iraniano. As grandes rochas roseadas ao redor parecem despenhadeiros de um território hostil.
As falanges da infantaria pareciam paredes com grandes lanças, marchando à frequência de 120 batimentos por minuto e de forma sincronizada. Cada falange parecia 120 colunas gregas alinhadas longitudinalmente ao sentido da marcha. Em cada coluna havia 12 homens de um mesmo pelotão. Seus integrantes honravam o lugar do irmão que à frente se feria, tomando o seu lugar e usando a grande lança de duas mãos. À cintura, um gládio para auxiliar. E na ponta dianteira de cada falange, havia o capitão e o porta-estandarte. Era um exército profissional, constituído exclusivamente de homens selecionados e treinados, além da maioria ser veterano de guerra.
Mesmo a poeira circulante do deserto não impediu esses homens macedônicos de verem uma grande névoa negra insinuando-se no horizonte. Os persas... A princípio pareciam semelhantes aos gregos em número. Mas alguns minutos depois, a fileira grega era algo perante a multidão: havia 150 mil homens persas. Era cerca de quatro vezes mais que o exército macedônico.
Então os persas se organizaram em três fileiras, cada uma semelhante em tamanho ao exército macedônico. Dario estava numa carruagem real no coração do exército persa, exatamente na terceira fileira persa do ponto de vista macedônico.
Alexandre resolve colocar em prática o plano de flanqueio da cavalaria. Previamente a isso, ele faz uma passada em frente às falanges honrando seus capitães, de falange a falange, contando histórias de glória, com encorajamento e humor que lhes eram característicos.
Então, Dario ordena que a primeira fileira ataque os macedônicos. Esses homens avançam pelo campo de batalha correndo, aparelhados com carruagens avassaladoras. Nas outras duas fileiras, os arqueiros sustentam ataques aéreos contra as falanges macedônicas.
As falanges, bastante agrupadas e alinhadas de forma nunca experienciada antes, levantam o escudo no braço não-dominante, blindando-se contra boa parte das flechas. Das que passavam, algumas ricocheteavam no elmo ou na ombreira polidos. Quando a primeira fileira persa encontra o exército macedônico, o espetáculo sangrento ocorre: carruagens persas atropelando os primeiros homens macedônicos e homens persas sendo atravessados pelas grandes lanças macedônicas.
Por mais que os persas fossem muitos, eles não tinham treinamento para se reagrupar em campo de batalha, e acabaram se pressionando contra a parede impenetrável de pontas de lança macedônica.
A marcha da falange durante a batalha em si era metade da frequência inicial: as 3 primeiras linhas de homens apontavam suas lanças para frente e iam marchando contra o inimigo, perfurando e retirando a lança. Quando algum inimigo perpassava a parede de lanças, o primeiro da fileira retirava o gládio e lutava corpo a corpo. Assim os macedônicos gradualmente infligiam danos mais importantes nos persas.
Enquanto isso, Alexandre e sua cavalaria pessoal contornou a primeira fileira persa, por fora e pela direita. Essa guarda pessoal era composta de 2 mil cavaleiros macedônicos destemidos, com divisões lideradas por seus generais e amigos de infância.
Em sequência, ele passou provocando a frente da segunda fileira persa, o que lhe atraiu grande quantidade de inimigos correndo ou montados contra a sua guarda pessoal.
É então que Alexandre resolve atravessar um ponto frágil que se formou na segunda fileira durante a perseguição persa, onde havia uma parede humana mais frágil e por onde ele poderia escapar do cerco da cavalaria ligeira persa. A guarda-pessoal macedônica atropela o ponto frágil com facilidade e chega do outro lado da segunda fileira.
Agora, eram 2 mil cavaleiros macedônicos contra a terceira fileira de 50 mil persas. Dario estava no coração dessa fileira. A adrenalina era máxima. O rei mais difícil de se vencer estava a cerca de 2 km de Alexandre.
Sabendo que não é bom ferir o coração de um exército, onde poderia se formar uma perigosa encruzilhada, Alexandre agrupa a sua cavalaria pessoal e fere diretamente a infantaria persa à direita, onde acontece uma importante disputa. Porém, em pouco tempo a cavalaria macedônica já estava atravessando a infantaria, pois a cavalaria persa estava barrada na frente de batalha.
Mesmo a terceira fileira persa tentando se organizar para proteger o rei Dario, Alexandre consegue chegar bem próximo da carruagem real e desfere um ataque à distância de lança, que passa rente ao corpo de Dario.
Dario teme a sequência de acontecimentos desfavoráveis taticamente, batendo em retirada com a terceira fileira persa. Alexandre esbraveja diante da covardia do rei inimigo: mesmo disparadamente em maior número, Dario não teve coragem de lutar até o fim.
Desfechos:
De certa forma, pode-se supor que Dario pouco conheceu a seu antecessor, o rei Ciro, o Grande. Ciro foi um rei glorioso e piedoso, que devolveu os povos a suas origens no auge do império Arquemênida.
A vida de Dario não seria mais a mesma depois dessa batalha. Por 3 anos, Dario se escondeu pelo nordeste da Pérsia, até ser encontrado nos limites da Pérsia com as atuais estepes russas. Dizem que ele foi encontrado em sua carruagem, num terreno plano e gramado onde havia muitas carruagens abandonadas, além de ouro e prata reais derramados pelo chão. Foi ali que Dario, incrustado de dardos, deu seu último suspiro diante de um oficial macedônico. Posteriormente, Dario foi sepultado honradamente pelos macedônicos.
...
Mesmo após essas batalhas sangrentas entre gregos e persas, Alexandre não mostrou impiedade para com o povo persa dominado. Ele fundou cidades planejadas e incentivou o comércio entre as regiões do império. E também promoveu a união de oficiais macedônicos com mulheres persas.
Uma dessas mulheres tornou-se a esposa de Alexandre. Roxana era princesa de uma tribo local. Seu semblante agradou imediatamente Alexandre, durante uma visita oficial. Havia uma dança de mulheres para a côrte macedônica e Alexandre notou a posição de destaque da princesa, encantando-se com seu olhar. Roxana era misteriosa. Não era como as concubinas do Palácio de Babilônia. Ela magnetizava o olhar de Alexandre. E ele se sentia inexplicável e espiritualmente preso a ela. Como dois corpos que estão predestinados a se juntar, Roxana não demonstrava temor ou interesse -- Alexandre se sentia desafiado pela presença dela.
Uma paixão intensa se apoderou de ambos, e dessa relação nasceu-lhes um filho: o futuro herdeiro do Grande Planalto Iraniano.