Preconceito linguístico
“Sedule curavi humanas actiones non ridere, non lugere, neque detestare, sed intellegere.” SPINOZA
Trecho da obra “Preconceito linguístico” de Marcos Bagno:
O preconceito linguístico se baseia na crença de que só existe [...] uma única língua portuguesa digna deste nome e que seria a língua ensinada nas escolas, explicada nas gramáticas e catalogada nos dicionários. Qualquer manifestação linguística que escape desse triângulo escola-gramática-dicionário é considerada, sob a ótica do preconceito linguístico, "errada, feia, estropiada, rudimentar, deficiente" e não é raro a gente ouvir que “isso não é português”.[1]
Ainda que ocorram diferenças estruturais entre as línguas, inexistem bases científicas para se afirmar que uma língua é intrinsecamente mais desenvolvida ou mais completa do que outra qualquer. Todas as línguas contêm uma gramática complexa que permite aos seus falantes utilizarem-na com diferentes finalidades, a fim de satisfazerem as suas necessidades psicológicas e sociais de forma eficiente. Se uma língua ou uma variante de uma mesma língua se torna mais “bem reputada” por uma comunidade do que outra, isso não decorre de diferenças entre os seus atributos gramaticais, mas, de fatores políticos, econômicos ou sociais. Assim, a afirmativa de que uma língua é uma “gíria”, ou um “dialeto primitivo” menos adiantado do que outra é errada e evidencia a ignorância e o preconceito de quem a coloca em pauta.
[1] BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico: o que é, como se faz. 49. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2007.