NECESSIDADE - Nova versão




 
 
 
Tem pelo Brasil afora inúmeros tecnocratas que insistem em criar termos e palavras novas, penso às vezes, que é só para confundir o sofrido povo analfabeto.  Tudo por imposição das autoridades governamentais.   É isso mesmo que eu acho e penso. Principalmente os parlamentares que querem manter os analfabetos alienados  das suas falcatruas. 
Não sabendo votar o povão elege qualquer cabeça de bagre para representá-lo nas câmaras municipais, nas assembléias legislativas e no Congresso Nacional.  Quanto mais pessoas alfabetizadas e esclarecidas tiverem, mais os parlamentares mal intencionados perdem.
Criaram idiotices como melhor idade, terceira idade, etc. para identificar as pessoas idosas, os anciões.  Ora bolas, idoso é idoso, velho é velho, ancião é ancião.   A melhor idade do cidadão é aquela na qual ele está em pleno gozo da sua saúde física, faculdade mental e espiritualmente em paz consigo e com Deus.
NECESSIDADE significa carência por isso jamais poderá ser especial, mas tão somente o substantivo feminino abstrato.
Necessidade especial é outra dessas baboseiras sem pé nem cabeça.
Alguns dicionários, inclusive o “Dicionário Brasileiro Globo” já na 15ª edição (autores Francisco Fernandes/Celso Pedro Luft/F. Marques Guimarães], sustentam que “necessidade” é aquilo absolutamente necessário que falta.  Exemplo: carência, precisão, além de mais outros dez sinônimos que explicam literalmente o seu significado.
Portanto, sendo um substantivo abstrato e não sendo palpável, ninguém consegue pegar nas mãos a necessidade. Desta forma ela não pode ser transportada para lugar nenhum.
Será que tem gente que sai por aí portando nas mãos, nos pés, na cabeça, nas costas um punhado, um quilo, um litro, uma dúzia, uma tonelada ou sei lá mais quantas outras unidades de peso ou medida que possa designar o transporte de uma necessidade.
No entanto algum imbecil desses que andam por aí sem ter o que fazer, sem sequer abrir um dicionário para aprender e saber o que escreve, inventou a mal fadada expressão “portador de necessidade especial”, para designar ou referir-se ao deficiente físico.           
O pior de tudo é que essa burrice e tremenda basbaquice pegaram. Várias ONGs e instituições públicas e privadas aderiram a essa expressão esdrúxula.                   
Eu falo isso pela minha experiência e conhecimento de causa. Sou pai de uma filha deficiente auditiva. Ela é deficiente física. Apenas isso. Nunca foi e se DEUS quiser nunca será portadora de nenhuma necessidade especial.                      
Tratar o deficiente como um coitado, um necessitado, dependente, isto sim, é uma baita maldade e brutalidade para com um ser humano. O fato de o cidadão ter alguma deficiência física, congênita ou não, em nenhum momento quer dizer que o mesmo é carente ou necessitado. Conheço centenas de pessoas deficientes que muito ao contrário, são alto-suficientes.                     
Vou citar para melhor ilustrar este meu escrito duas pessoas lindas do meu relacionamento e pelas quais tenho um grande apreço que juntamente com a minha filha Cyntha Harumi me inspiraram a escrever esta matéria. Espero e acredito que elas não vão ficar zangadas comigo por isso. Tenho certeza absoluta que elas não são portadoras de nenhuma necessidade.
A primeira é a minha amiga “Claudete Corpo. Uma mulher de fibra, lutadora e perseverante.
Com os pés e mão atrofiados por conta de poliomielite da qual foi acometida quando criança consegue operar milagres no seu dia-a-dia. Eu mesmo já escrevi num jornal de Guarulhos uma matéria dando conta de que enquanto muitos homens fortes e sadios, de corpo perfeito, braços, olhos e pernas perfeitos se valem disso para roubar e ceifar vidas humanas ela que não tem braços nem pernas trabalha diuturnamente a serviço do bem. Uma trabalhadora abnegada e incansável. Com o seu trabalho ela cuidou da sua mãezinha até o seu ultimo dia de vida. Dona Ângela morreu [desencarnou] com mais de noventa anos.
A Claudete é simplesmente uma grande cantora lírica [soprano], mas sobrevive com o fruto do seu trabalho como artista plástica que é. E que artista. Produz quadros simplesmente lindos.                     
Sabem vocês como é que ela faz isso? Com um pincel preso entre os dentes. Ela pinta com a boca. A Claudete quando tinha cinco ou seis anos de idade teve poliomielite. Tornou-se deficiente física. Tem pernas e braços bastante deformados. Mesmo assim trabalha duro, horas e horas pintando; cantando, fazendo palestras e colaborando com suas sábias orientações em casas da doutrina espírita.
Eu ficaria por muito tempo para contar aos meus leitores amigos do que esta mulher é capaz em termos de bondade, beleza, tudo em sua cadeira de rodas vinte e quatro horas por dia.                      
Ah! O segundo é o meu velho e querido amigo, mais do que isso, meu irmão Aristides Castelo Hanssen, que nós seus amigos e os poetas o tratamos carinhosamente apenas de “Castelo”.                    
Até uns dez ou doze anos atrás era o jornalista, o escritor e o poeta Castelo Hanssen se locomovia por todos os cantos de São Paulo e do Brasil. No entanto por conta do diabetes tornou-se deficiente visual e infelizmente hoje em dia não nos acompanha nos saraus e encontros líteros musicais.         
Quem tem ou teve o privilégio de conhecer e conviver com o Castelo, como é o meu caso, tem muito orgulho disso. Pra mim o maior poeta vivo que eu conheço. Foi presidente da Academia Guarulhense de Letras no biênio passado. Nunca deixou de trabalhar só porque perdeu a visão. Até hoje, aposentado que é, trabalha escrevendo matérias para alguns jornais de Guarulhos.
Essas duas criaturas são ímpares. Capazes de nos encantar e fazer chorar, não de tristeza, mas de muita alegria de vê-los atuando. 
Enfim, espero que um dia esses idiotas parem com esta besteira de chamar os deficientes físicos de portadores de necessidades especiais, pois eles não o são.
E tem mais um detalhe de alta relevância:
Nenhuma necessidade é especial. Necessidade é só necessidade e pronto.