"MENINO DE RUA QUE A ONU NÃO VÊ"

Eu nasci la no morro fui criado na rua, sob o mirar da lua e das sirenes a tocar

Do ruído raivoso de um motor que ronca me acusa da bronca e quer me “guardar”.

O flagrante é o cheiro perfume primeiro flagrante lavrado após camburão

Eu queria uma sina de viver diferente onde bicho e gente fosse bela união

Cassetete que sobe e no lombo já desce o corpo padece o flagelo da dor

Quem bate não sente a dor tão causada o retrato do nada revela o opressor

Cade a muamba o fino o fumo me faça um resumo desse seu vagar

A rua é crua a fome é nua respondo e apanho sem poder chorar

O grito ecoa na vala tão rala desceu a escala o crime abraçou

Sou eu peregrino, objeto menino sofrendo o destino que meu sonho ganhou.

Quem dera me dessem escola e giz um riso feliz uma escola e um lar

Mas o mundo cruel inverteu meu papel mirando o céu só aprendi a chorar.

Cadê minha infância, falida e perdia meu resto de vida nas ruas ficou

E o moço fardado de coturno novo me chuta de novo minha história findou

Ninguém me procura e a rua escura manchete em filete de sangue a correr

Já deu no diário do jornal sangrento e a todo momento "um de mim a morrer".

Nas ruas aos 9 aos 10 já roubando fumando e cheirando pra tornar roubar

Já fui avião hoje sou descartado, aeroporto fechado sem nome no hangar.

Carlos Silva

14 de Outubro de 2019

CARLOS SILVA POETA CANTADOR
Enviado por CARLOS SILVA POETA CANTADOR em 21/10/2019
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