ViniciosDeMoraes-ChicoDoCrato-AbruscaPoesiaDaMulherAmada
ViniciosDeMoraes-ChicoDoCrato-AbruscaPoesiaDaMulherAmada
https://www.recantodasletras.com.br/audios/cancoes/81294
ChicoDoCrato, Música, Voz, Violão, Sintetizador, Arranjo,
Mixagem e adaptação do poema de Vinicius de Moraes(*)
Audacity, 000 Ritmo 057+70 em Ré+. Gravação caseira. Gravar em estúdio.
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Minha mãe, alisa de minha fronte todas as cicatrizes do passado
Minha irmã, conta-me histórias da infância em que eu haja sido herói sem mácula
Meu irmão, verifica-me a pressão, o colesterol, a turvação do timol, a bilirrubina
Maria, prepara-me uma dieta baixa em calorias, preciso perder cinco quilos
Chamam-me a massagista, o florista, o amigo fiel para as confidências
E comprem bastante papel; quero todas as minhas esferográficas
Alinhadas sobre a mesa, as pontas prestes à poesia
Eis que se anuncia de modo sumamente grave
A vinda da mulher amada, de cuja fragrância Já me chega o rastro.
É ela uma menina, parece de plumas
E seu canto inaudível acompanha desde muito a migração dos ventos
Empós meu canto. É ela uma menina
Como um jovem pássaro, uma súbita e lenta dançarina
Que para mim caminha em pontas, os braços suplicantes
Do meu amor em solidão. Sim, eis que os arautos
Da descrença começam a encapuzar-se em negros mantos
Para cantar seus réquiens e os falsos profetas
A ganhar rapidamente os logradouros para gritar suas mentiras
Bis no final
Mas nada a detém; ela avança, rigorosa Em rodopios nítidos
Criando vácuos onde morrem as aves.Seu corpo, pouco a pouco
Abre-se em pétalas... Ei-la que vem vindo Como uma escura rosa voltejante
Surgida de um jardim imerso em trevas. Ela vem vindo... Desnudai-me, aversos!
Lavai-me, chuvas! Enxugai-me, ventos! Alvorecei-me, auroras nascituras!
Eis que chega de longe, como a estrela De longe, como o tempo A minha amada última!
(*)*Optamos por acrescentar o número ao título, a fim de diferenciar este poema
de outros dois que trazem o mesmo nome: “A brusca poesia da mulher amada”.
O primeiro apareceu no livro Novos poemas (1938) e o segundo em Novos
poemas II (1959).