Fio do bigode

Num fandango na fronteira

Me atacaram na porteira

Não sou cuera bagaceira

E não levo desaforo

Pois mexeram na vespeira

Tão querendo levá um couro

“Sabem com quem tão falando?

Sou cria do Boqueirão”

Só foram se desculpando

Ao verem meu bigodão.

De cara, já na entrada

Tinha coisa engraçada

Índio de cara rapada

E sem lenço no pescoço

Vi china quase pelada

E véia falando grosso

Pedi um trago de canha

Com as china fui beber

Muita chinoca se assanha

Pra meu bigode lamber

Veio uma baita piguancha

Mas que tinha pouca idade

Riqueza do meu Rio Grande

Lindaça barbaridade

Quartuda de bunda grande

Veio pra riba de mim

Eu sou cuera mui passado

Tudo nela tava aceso

Eu, um poquito atrasado

Meu bigode ficou teso

Eu na tua, tu na minha

Pois não gosto de sossego

A piguancha assanhadinha

Já levei pros meus pelegos

Tudo às mil maravilhas

Quase tudo se encaixou

Quando eu ia, ela vinha

Só o beijo não vingou

Pois meu bigode enredou

No bigodão que ela tinha

Depois desta e outras tantas

Meu cavalo mui cansado

Com a piguancha na garupa

Acabei levando fiado

Uma tropilha de cavalos

Muitas cabeças de gado

Sou gaúcho afamado

Fazer isto é pra quem pode

Pois deixei de garantia

Só um fio do meu bigode.

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(Gravada no CD AquinoSul – 2002)

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Dúvidas sobre o vocabulário? Consulte Glossário Gaúcho (Gramática e Ortografia)

Aquinosul
Enviado por Aquinosul em 11/06/2014
Reeditado em 23/06/2014
Código do texto: T4840506
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