Ilustração de Henrique Secundino.
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COMENDO ESCORPIÕES

Gênero: Sertanejo (pagode de viola).
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Ser ricaço hoje em dia / Deixou de ser importante;
Ser um amigo do rei / Já não é interessante.
Por trás de nossas roupagens, / Somos todos semelhantes!
Eu não julgo um beduíno / Pelo brilho do turbante:
Seu verdadeiro valor / Não está no diamante!

Quem semeia tempestades / Só pode colher tormentas;
Geleira se diz eterna, /  Derrete porque esquenta;
Esquimó perde o iglu... / Urso foge , não aguenta!
Não gosto de caviar, / Prefiro minha polenta,
E não gosto de avião / Porque cai e arrebenta!

Não consegue ser direito / Quem já decidiu ser torto.
Quem se julga muito vivo, / Amanhã pode estar morto!
Não se espera da vida / Cem por cento de conforto...
Já sonhei, fui navegante / Completamente absorto,
Atravessei sete mares, / Mas não encontrei meu porto!

Quem tem boca vai a Roma, / Quem tem sede vai ao pote;
Quando a presa está longe / Não adianta dar o bote;
Quem precisa de um galope / Não consegue mais que trote;
Hoje fica nas gerais / Quem nasceu pra camarote...
Eu já montei touro bravo, / Hoje fujo de garrote.

Quem sempre foi bom de briga / Anda fugindo da raia;
Quem domina o oceano / Está morrendo na praia.
Quem critica o adversário / Pode ser da mesma laia!
"Cabra" macho, muito macho, / Qualquer dia veste saia...
Caçador de escorpiões / Anda virando lacraia!


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