da série músicas inesquecíveis: FRAUDE
Eu me angustio, eu me angustio, me deprimo, fico mal, eu fico mal
Eu sou um imbecil, eu sou um imbecil
Um cretino, um mentecapto, ah! eu sou um idiota,
Ou, um idiota
Mas eu abomino aqueles que vivem reclamando de tudo
Ah! eles falam isso, falam aquilo, mas eles nada fazem
E se acham muito bem
E também abomino aqueles que não reclamam de nada
Mas que também não fazem nada
E não sabem se estão mal ou se estão bem como
Também abomino aqueles que vivem dizendo que fazem tudo
Mas que na verdade não fazem nada e...ah! vá pro
Inferno, encheu o saco
E tudo bem...
Moda, tudo é moda, mas não há nada que incomode,
Que atinja ou melindre
Os donos das consciências, da sua (ridícula) consciência
É triste ver tantos robôs fabricados, programados, esquematizados
Com passos ensaiados, excêntricos, esquizofrênicos
Em nome da modernidade, ou, modernidade
Entra década e os cabelos crescem ,
Sai década e encurtam os cabelos...
Ah! mas eu, tolo, parvo, vil, abjecto, beócio
Não quero nem saber de cabelo, eu tô mais preocupado
É com a cabeça, ou, com a minha cabeça
Que me perdoe o walter franco, mas eu, burrão,
Imbecilzão, cretinão
Estou mais preocupadoem encontrar alguma coisa
Que faça a minha cabeça, ou, minha cabeça
Só vendo só como é que dói, só vendo só como é que dói
Saber que só tem uma rádio em que se manifesta lá em niterói
E de resto não vai nada nem melhor e nem pior
Nós ainda somos os mesmos e vivemos, nós ainda
Somos os mesmos e vivemos
Nós ainda somos os mesmos e vivemos como o belchior
Não deveria ser assim, mas sei que é melhor eu apresentar o grupo Lingua de Trapo, integrantes do movimento Vanguarda Paulistana (ou Paulista), que aconteceu entre o fim dos anos 70 e começo dos 80 do século passado. Quem for a um show do Lingua, hoje, talvez não reconheça parte da banda, mas certamente os membros remanescentes – que vez por outra se reunem – irão reconhecer a pláteia inteira, são as mesmas pessoas há 30 anos.
Alguém escreveu a seguinte sintese sobre o movimento:
“Depois de quase 10 anos sem grandes novidades na MPB, acontece num porão da Teodoro Sampaio o momento musical da Vanguarda Paulista, no início dos anos 1980. O Lira Paulistana apresenta num teatro de 200 lugares a revolução musical daquela década. A mídia elegeu, no entanto, o pop-rock para construir a cara dessa geração. E a vanguarda é vanguarda até hoje, para ouvidos especialíssimos e encantados com o novo.”
Em outra música, o Língua vai dizer que a vanguarda parou para esperar o povo, e sabemos que até agora ele não chegou...
Dentre tantos sucessos (!!!) deles, em que a característica principal é a sátira social, comportamental e existencial, esta canção destoa por ser quase séria, ou muito séria... ouvindo-a, em 1985, a gente ficava com aquela sensação de sermos vitimas e personagens da grande fraude que se desenrola naquilo que chamamos de existência, de sociedade, de vida.
Nada de novo, de novo... ainda somos exatamente os mesmos, e ninguém mais para falar isto...