Cadarços e Botequim
Quando me encontraram nas palavras
Quando os meus gestos falaram por mim
Quando falei da minha história
Fizeram minha casa virá botequim,
Cadaços de sapato, laços de cetim.
Quando soltei as minhas dores
Quando falei dos meus amores
Amaram mais, amaram zen
Deixaram me pra trás só no desdém.
Quando ouviram os gritos lá na praça
Quando deram ouvidos para me ouvir
Leram só o averso da minha estrada
Sem entender o princípio, o meio e o fim.
Quando pus a cara no espelho
E vi as cicatrizes carmesim,
Não fiz nenhuma plástica por inteiro
Deixei a fria imagem de pentelho,
E a pintura de palhaço sem marfim.
-Não queira ser um pobre condenado,
-Não pense no passado tanto assim.
-Deixe que eu faço tua imagem
-Ser igual a um grande serafim.
-Não faz mal, tudo bem, vou levando
-São águas de verão que passam por mim
-São partículas do mundo maginal, mágico
-Sideral, espacial, sobre os meus saltos,
-São versículas useradas do pó do asfalto.
Não tente escrever a minha história,
Pois não saberás tecer o fim
Não tente fazer do pequeno enrêdo
Uma mistura de cachaça gelo e gim.
Não sou guarda-chuva no inverno
Não sou água de alambique ou coisa assim,
Não sou guarda-sol o dia inteiro
Pra salvar sua alma desse inferno;
Não sou do círculo desse universo
Sou o vesgo desse seu jardim
Não sou notícia de pasquim das quatro
Do que você recria sobre mim.
Sou luz, escuridão
Sem terra com nação
Homem e mulher
Na terra do quem puder.
Sou rua, sou país
Sou selva, sou raiz
Sou o norte dos meus dias,
Sou o sul das agonias da sua matrix.