AMIGAS PARA SEMPRE

Quando eu era uma simples e inocente adolescente, resolvi procurar meu primeiro emprego. Com muitos sonhos em minha cabeça, já planejava o que eu iria fazer com o meu primeiro salário. Nos anos 80 não era uma tarefa fácil encontrar um trabalho, era muitas fichas preenchidas e muitas idas e vindas atrás de placas de precisa-se.

Mas um dia aconteceu, consegui o emprego tão esperado, não era exatamente o que eu sonhava ser vendedora de porta em porta, mas este era sim o meu primeiro emprego.

Pra ficar ainda melhor, conheci Kéti que se tornaria minha melhor amiga. Foi amor a primeira vista senti uma vontade imensa de cuidar dela por isto ela passou a ser minha parceira, trabalhávamos sempre juntas éramos inseparáveis, uma cuidava da outra.

Durante o trabalho para tornar os dias menos estressantes, nós falávamos uma para outra, que éramos filhas de pai rico,e que aquele emprego era apenas um róbe.

Eu dizia para ela:

- Kéti está vendo aquele ônibus, meu pai é dono da empresa.

Ela para não ficar para trás dizia:

Olha para o céu, tá vendo aquele avião, meu pai é dono de todos os aviões, ela sempre queria ser mais rica do que eu.

Cada dia era uma história diferente.

Certo dia eu e a Kéti estávamos tocando a campainha de uma casa para oferecer produtos de limpeza porque era o que tentávamos vender, quando passou perto da gente um varredor de rua, não podia perder está oportunidade olhei pra ela e disse baixinho:

Kéti sabe aquele varredor de rua... é meu segurança, ele está disfarçado para me proteger de seqüestros.

Daí em diante todos os carteiros, catadores de lixo, lixeiros, até mesmo bêbados que passavam perto da gente eram nossos seguranças, disfarçados. rsrs

Foram muitos momentos difíceis que fazíamos se tornar alegres.

Na hora do almoço, era na primeira praça que matávamos a nossa fome.

Certo dia uma das vendedoras não apareceu para almoçar, todos ficaram preocupados.

Até que um dos vendedores começou a tremer e passou a dizer:

Eu to com mau pressentimento, aconteceu algo de ruim com a nossa amiga.

Kéti que não tem freios na língua logo disse:

-Que nada Davi, você está tremendo de fome, você não trás marmita.

Ela brincava, mais sempre era a primeira que repartia a marmita com o Davi.

Foram muitos momentos difíceis, mas com a companhia de minha amiga foram momentos que se tornaram alegres e marcantes impossíveis de se esquecer.

A nossa última aventura, confesso me deu medo, mas para Kéti só foi mais uma demonstração de carinho e cuidado que ela sempre teve comigo.

Então vamos lá, foi num fim de tarde após acabar um dia de trabalho.

Estávamos indo embora pra casa, quando no meio do caminho a Kéti avistou um par de chinelos na rua servindo como gol, para alguns meninos que estavam jogando bola.

Quando de repente ele agachou, pegou os chinelos e colocou dentro de sua mochila e ainda teve a audácia de falar que iria levá-los para o seu pobre irmão.

Quando um dos meninos apareceu com a bola no pé, depois de muitos dribles e chutes na canela e se preparando para marcar o gol.

E ai cadê o gol?

Decepcionado o menino e seus mais de dez amigos nem perguntaram, já foram logo acusando minha amiga de ter pego os chinelos.

Cheia de razão ela foi logo se defendendo e ainda ficou brava com os meninos.

Como eu estava com a folgada da Kéti fui a próxima a ser acusada.

AH!! Então foi você gritaram os moleques enfurecidos.

Neste momento apagou de minha memória o quanto nós éramos inseparáveis o quanto uma cuidava da outra, os moleques nem terminaram de me acusar, quase chorando fui logo dizendo:

-Não fui eu, e apontando o dedo disse:

-Foi ela que pegou os chinelos.

Depois que eu uma legítima x9 entregou a melhor amiga, não havia outra coisa a fazer, ela abriu a mochila pegou os chinelos jogou no chão e ainda disse irritada:

- Toma estes chinelos velhos, quem mandou deixá-los jogados na rua.

Depois deste assustador acontecimento, pelo menos para mim, felizmente eu e a Kéti continuamos amigas com os mesmos planos e objetivos.

Hoje continuo simples e inocente,e não sou mais adolescente os anos que se passaram me ensinaram algo muito valioso, amigo não se questiona, amigo não se cobra, amigo a gente entende...

Personagens:

Kéti: não tem freios na língua.

EU Di: medrosa, porém inocente.

Os moleques enfurecidos.

A vendedora que sumiu.

Davi: morto de fome.

Participações especiais: Assalariados.

E os que lutam para sobreviver.

Di Menezes.

DI MENEZES
Enviado por DI MENEZES em 07/02/2013
Reeditado em 30/04/2015
Código do texto: T4128482
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