Meu Caminho

Sentei-me no chão e comecei a olhar para as paredes brancas daquele pequeno cômodo vazio. Não tinha praticamente nada, mas era meu. Não se localizava em nenhum bairro nobre como eu tanto sonhara um dia, mas era meu, só meu. Um presente de minha mãe que apesar do grande desapontamento que sentia em relação a mim, se preocupava comigo. Diferente de meu pai, aquele brutamontes, incontrariável. Tudo que eu tinha era agora era algumas roupas, o modesto imóvel e meu inseparável notebook. No fundo, sentia uma discreta alegria em ter saído da casa de meus pais - mesmo que empurrado pelas circunstancias -. Mas agora sim eu tinha tudo para encontrar o meu próprio caminho.

A primeira noite, com certeza, foi a mais difícil, não parava de pensar na vida. Presente, passado e futuro. O choro de minha mãe também era interminável em meus pensamentos e as palavras de ódio de meu pai também, ainda podia ouvi-las ecoar no vento.

-E agora?- eu me perguntei um milhão de vezes. Eu não sabia o que faria no dia seguinte, só tinha certeza de que não queria nem poderia voltar para casa. Não depois de tudo o que tinha acontecido. Aquilo ficaria para sempre em meu coração, eles não tinham nada do que me perdoar, eu não fiz nada de errado. Tenho culpa de ser diferente? Meu pai sim devia me pedir desculpas. Nem minha mãe, que sempre foi mais ligada a mim, não me defendeu. Sinceramente, esperava um pouco mais dela. Se bem que a compreendo um pouco, quem lutaria contra aquele velho grosso e preconceituoso? Nem eu tive coragem de fazê-lo. Nem mesmo depois que meu segredo já havia se espalhado pelas bocas de todos aqueles fofoqueiros que não têm mais nada pra fazer a não ser cuidar da vida alheia. Ah! Maldita hora em que confiei em Ana. Se soubesse que era tão falsa, nunca teria dito nada. Mas ela era minha melhor amiga. Infelizmente, ela tinha uma melhor amiga também que era melhor amiga da filha do pastor da igreja de minha mãe. Foi questão de dias para que a minha orientação sexual fosse transformada em debate por todas as pessoas desocupadas do meu bairro. Quase não acreditei quando, ao chegar em casa, fui recebido com um soco de meu pai, palavras grosseiras e pior, o choro inconsolável de minha mãe. Todo esse transtorno causado pelo simples fato de eu gostar de meninos. Eles não procuraram me ouvir, fui tratado como um doente, criminoso, ou pior que isso. Meu pai sugeriu de imediato que eu fosse embora dali. Não o contrariei, talvez no fundo, eu quisesse mesmo me afastar daqueles que não me compreendiam, minha mãe concordou, propôs que minha saída fosse temporária, até meu pai se acalmar, mas eu sabia, eu não iria mais voltar.