Mais Problemas Familares...
Meu marido um belo dia apareceu dizendo que ia vender o posto de gasolina para comprar outro, bem maior, que ficava numa rodovia.
Ele era assim; resolvia tudo e só depois comunicava, inclusive fez isso com o irmão que era seu sócio.
O novo posto era enorme; tinha borracharia, restaurante e até um pequeno motel que funcionava nos fundos.
O Mauro trabalhava como louco; o irmão já estava casado e morava em outra cidade; vinha só de vez em quando saber como iam os negócios, mas não tinha retirada.
Aos domingos meu marido nos levava para almoçar no restaurante do posto: era nosso passeio semanal.
O Maurinho já tinha uns seis meses; era um bebê lindo e fofinho; ficava sentado no carrinho e na cadeira alta.
Nessa época eu lecionava, a Neusa cuidava da casa, nós duas cuidávamos do nenê e o Mauro trabalhava quase que dia e noite.
Eu não me interessava nem um pouco pelos negócios; pelo contrário, até arranjei um professor de violão que vinha dar aulas em casa.
Eu e o Michel, meu irmão mais novo que devia estar com uns doze anos,tentávamos arranhar o violão; quem aprendeu realmente foi ele, que até hoje gosta de tocar e cantar e tem uma linda voz.
O Michel era um menino doce, amigo, ficava ajudando a cuidar do nenê, empurrando o carrinho pra lá e pra cá.
Eu na verdade não me ligava muito com a “realidade dura da vida”, aliás, para mim, a vida nunca foi dura...
O que eu ganhava como professora era o suficiente para minhas modestas ambições; eu não pensava em jóias, roupas caras, casa luxuosa.
Queria sim ter uma casa própria, mas não seria tão difícil...
Já meu marido era mais ambicioso: queria viajar, construir um futuro cheio de bens e posses.
Eu não criticava, ao contrário, isso me atraía nele, pois era uma qualidade que eu não possuía.
Mas não conversávamos muito sobre tudo isso; nossas realidades eram tão diferentes que tornava o diálogo um pouco difícil.
Ele se queixava que trabalhava demais, que só ele estava lutando para valorizar o capital e que o irmão não trabalhava.
O Rob vinha de vez em quando com sua mulher, se inteirava dos negócios,visitavam o sobrinho e iam embora.
Minha cunhada era uma moça muito inteligente e praticamente tomava à frente das decisões do casal; já o Rob era sonhador, idealista, gostava de reunir os amigos e conversar.
Sempre admirei a minha cunhada Marilu pela sua força e lucidez, apenas lamentava que às vezes ela se tornasse um tanto dura e autoritária.
Ela e meu marido não se davam muito bem: dizem que dois bicudos não se beijam. Ele sempre foi muito franco, falava tudo que vinha à cabeça sem pensar muito nas conseqüências e já tinham se chocado várias vezes por causa desse gênio forte dos dois.
O Rob e eu, mais apaziguadores, tentávamos amainar as tempestades...
Pois bem, a tempestade que há muito tempo estava se formando, um belo dia desabou...
O Mauro se cansou, disse que não agüentava mais, que iria vender o posto de gasolina.
Arranjou um comprador que daria uma parte à vista e o restante em muitas prestações mensais; o Rob concordou e assinaram a venda.
Quando chegou a hora de acertar as contas com o irmão, o Mauro se fechou numa postura espantosa e inflexível: disse que o Rob nunca tinha trabalhado, nem para salvar o posto da cidade, nem para valorizar o posto da rodovia; disse que ele não merecia receber a metade do dinheiro!
Ofereceu menos, o outro não aceitou.
E pronto: não houve argumentação que os fizesse mudar de idéia e entrar num acordo!
O irmão brigou, ameaçou com a justiça, chorou, disse que não era pelo dinheiro que chorava, mas pela traição; o outro foi inflexível.
Analisando agora vejo que na verdade eu me omiti, não tomei posição, assisti a tudo de fora, sem tomar partido.
Realmente eu não fazia a menor idéia de que ele ia tomar essa decisão: ele a tomou sozinho, sem me consultar, mesmo porque sabia que eu seria contra.
E mesmo que agora eu brigasse com ele, não ia adiantar nada: ele era teimoso como tal e devia estar planejando isso há muito tempo.
Também percebo que o acontecimento se abateu sobre os dois irmãos com tal força, que parecia obra do destino: não adiantaria nada eu nem ninguém tentar interferir. Os próprios pais deles assumiram essa mesma atitude: disseram que não iriam tomar partido!
A partir daí os irmãos se afastaram totalmente; aliás, o Mauro se afastou de toda a sua família; talvez ele sentisse que os parentes teriam ficado contra ele e ao lado do irmão, mas na verdade não foi isso que aconteceu: todos preferiram não tomar partido e não o fizeram.
Esse acontecimento ficou marcando nossas histórias; a família se separou; ficou um nó, algo em suspenso sem se resolver.
Hoje o Mauro já se foi deste mundo, assim como meus sogros; os irmãos continuaram distantes e a filha deles não conhece os meus filhos...
Tudo isso é triste, mas sinto que todos nós vivemos certas experiências e que algumas não conseguimos evitar ou mudar seu rumo.
Seja como for, acredito que tudo se encaminha infalivelmente para o Bem Maior e que todas as feridas acabam sendo dissolvidas e curadas dentro da Harmonia e da Paz.
Que Assim Seja!
continua...
Meu marido um belo dia apareceu dizendo que ia vender o posto de gasolina para comprar outro, bem maior, que ficava numa rodovia.
Ele era assim; resolvia tudo e só depois comunicava, inclusive fez isso com o irmão que era seu sócio.
O novo posto era enorme; tinha borracharia, restaurante e até um pequeno motel que funcionava nos fundos.
O Mauro trabalhava como louco; o irmão já estava casado e morava em outra cidade; vinha só de vez em quando saber como iam os negócios, mas não tinha retirada.
Aos domingos meu marido nos levava para almoçar no restaurante do posto: era nosso passeio semanal.
O Maurinho já tinha uns seis meses; era um bebê lindo e fofinho; ficava sentado no carrinho e na cadeira alta.
Nessa época eu lecionava, a Neusa cuidava da casa, nós duas cuidávamos do nenê e o Mauro trabalhava quase que dia e noite.
Eu não me interessava nem um pouco pelos negócios; pelo contrário, até arranjei um professor de violão que vinha dar aulas em casa.
Eu e o Michel, meu irmão mais novo que devia estar com uns doze anos,tentávamos arranhar o violão; quem aprendeu realmente foi ele, que até hoje gosta de tocar e cantar e tem uma linda voz.
O Michel era um menino doce, amigo, ficava ajudando a cuidar do nenê, empurrando o carrinho pra lá e pra cá.
Eu na verdade não me ligava muito com a “realidade dura da vida”, aliás, para mim, a vida nunca foi dura...
O que eu ganhava como professora era o suficiente para minhas modestas ambições; eu não pensava em jóias, roupas caras, casa luxuosa.
Queria sim ter uma casa própria, mas não seria tão difícil...
Já meu marido era mais ambicioso: queria viajar, construir um futuro cheio de bens e posses.
Eu não criticava, ao contrário, isso me atraía nele, pois era uma qualidade que eu não possuía.
Mas não conversávamos muito sobre tudo isso; nossas realidades eram tão diferentes que tornava o diálogo um pouco difícil.
Ele se queixava que trabalhava demais, que só ele estava lutando para valorizar o capital e que o irmão não trabalhava.
O Rob vinha de vez em quando com sua mulher, se inteirava dos negócios,visitavam o sobrinho e iam embora.
Minha cunhada era uma moça muito inteligente e praticamente tomava à frente das decisões do casal; já o Rob era sonhador, idealista, gostava de reunir os amigos e conversar.
Sempre admirei a minha cunhada Marilu pela sua força e lucidez, apenas lamentava que às vezes ela se tornasse um tanto dura e autoritária.
Ela e meu marido não se davam muito bem: dizem que dois bicudos não se beijam. Ele sempre foi muito franco, falava tudo que vinha à cabeça sem pensar muito nas conseqüências e já tinham se chocado várias vezes por causa desse gênio forte dos dois.
O Rob e eu, mais apaziguadores, tentávamos amainar as tempestades...
Pois bem, a tempestade que há muito tempo estava se formando, um belo dia desabou...
O Mauro se cansou, disse que não agüentava mais, que iria vender o posto de gasolina.
Arranjou um comprador que daria uma parte à vista e o restante em muitas prestações mensais; o Rob concordou e assinaram a venda.
Quando chegou a hora de acertar as contas com o irmão, o Mauro se fechou numa postura espantosa e inflexível: disse que o Rob nunca tinha trabalhado, nem para salvar o posto da cidade, nem para valorizar o posto da rodovia; disse que ele não merecia receber a metade do dinheiro!
Ofereceu menos, o outro não aceitou.
E pronto: não houve argumentação que os fizesse mudar de idéia e entrar num acordo!
O irmão brigou, ameaçou com a justiça, chorou, disse que não era pelo dinheiro que chorava, mas pela traição; o outro foi inflexível.
Analisando agora vejo que na verdade eu me omiti, não tomei posição, assisti a tudo de fora, sem tomar partido.
Realmente eu não fazia a menor idéia de que ele ia tomar essa decisão: ele a tomou sozinho, sem me consultar, mesmo porque sabia que eu seria contra.
E mesmo que agora eu brigasse com ele, não ia adiantar nada: ele era teimoso como tal e devia estar planejando isso há muito tempo.
Também percebo que o acontecimento se abateu sobre os dois irmãos com tal força, que parecia obra do destino: não adiantaria nada eu nem ninguém tentar interferir. Os próprios pais deles assumiram essa mesma atitude: disseram que não iriam tomar partido!
A partir daí os irmãos se afastaram totalmente; aliás, o Mauro se afastou de toda a sua família; talvez ele sentisse que os parentes teriam ficado contra ele e ao lado do irmão, mas na verdade não foi isso que aconteceu: todos preferiram não tomar partido e não o fizeram.
Esse acontecimento ficou marcando nossas histórias; a família se separou; ficou um nó, algo em suspenso sem se resolver.
Hoje o Mauro já se foi deste mundo, assim como meus sogros; os irmãos continuaram distantes e a filha deles não conhece os meus filhos...
Tudo isso é triste, mas sinto que todos nós vivemos certas experiências e que algumas não conseguimos evitar ou mudar seu rumo.
Seja como for, acredito que tudo se encaminha infalivelmente para o Bem Maior e que todas as feridas acabam sendo dissolvidas e curadas dentro da Harmonia e da Paz.
Que Assim Seja!
continua...