Os óculos do Amor

Era uma vez...

Um garoto que vivia em uma rua comum, dentro de um bairro comum, em mais uma cidade qualquer dentro do mesmo mundo que todos viviam! Um garoto que não via o mundo com os mesmos olhos que todos os seus outros habitantes, e sempre ficava olhando para o céu imaginando se seria mesmo dali daquele lugar, não que achasse todos piores ou melhores, mas que era simplesmente diferente do resto do mundo, e passava a noite em sua janela, olhando as estrelas e imaginando se havia no mundo alguém que pensasse como ele.

O nome deste menino era Zion, significava paraíso, ele era uma criança muito especial, um principezinho que via o mundo com olhos cheio de amor.

Ele não entendia muitas coisas, como por exemplo:

Porque as pessoas brigavam tanto para ficar de bem depois, porque só não ficavam de bem sempre?

Porque as pessoas queriam sempre ganhar mais dinheiro para ter lá depois tudo o que já tinham agora, aqui pertinho!

Para que os homens grandes falavam tanto para convencer todos o que ninguém mais acreditava?

Porque as pessoas não se entregavam ao amor de verdade, e procuravam sempre justificar o obvio?

Era tanta coisa que o menino Zion ficava com sua cabecinha toda embaralhada, mas ele tinha esperança que um dia os adultos pudessem ver o mundo com seus olhos, e foi quando ele teve uma idéia muito legal!

Inventar uma maquina de copiar olhos e sair pelo mundo distribuindo a copia de seus olhos para que todos então pudessem enxergar como era simples ver com amor o resto das coisas.

E assim fez, trabalhou duro durante semanas, sozinho no porão de sua casa, e no fim, deu tudo certo, tinha construído a maquina de copiar olhos que viam o mundo com amor, ele foi esperto, com medo que um dia alguém que tivesse olhos que não tivessem amor se apoderasse da maquina, fez um dispositivo que garantia copias somente de olhos que enxergassem com amor.

E fez o primeiro teste, tirou uma copia dos seus olhos e colocou guardado em uma caixinha, mas para as pessoas não acharem estranhos receber olhos de presente, fez que a maquina fizesse as copias em forma de óculos muito bonitos, irrecusáveis ao presenteado.

E saiu de casa, desta vez, foi na venda próxima onde tinha um homem grande, barbudo e sempre mau humorado que maltratava todos e era sempre grosseiro, foi quando Zion se aproximou dele e ofereceu o óculos diferente, primeiro o homem fez cara de pouco caso, mas achou belo aqueles óculos, e logo foi colocando no rosto para ver como ficava, e imediatamente aconteceu algo que ele não esperava, viu todos com cores diferentes do que via antes, tudo que era preto e branco se coloriu imediatamente, o amargo do café que estava tomando ficou doce com mel, podia sentir as abelhas que fizeram aquele mel cantarolar em seus ouvidos, e saber a importância de estar em um mundo tão belo, se esqueceu das magoas passadas, e de repente, misteriosamente, viu que todas as pessoas a sua volta, eram também dignas de serem respeitadas e tratadas com amor e carinho, sem maus tratos ou grosserias, sim, ele enxergava como menino outro vez, e o homem ficou feliz em saber que não precisava mais endurecer seu coração para aprender a lidar com o mundo e sobreviver nele!

Zion muito feliz, saiu correndo da venda e foi contar a sua mãe sua façanha, que ouviu seu filho com atenção, mas sem acreditar e ouvindo tudo o que o filhinho dizia fazia suas tarefas como se o mundo fosse acabar naquele momento e ouvia as seguintes palavras de seu filho: bla bla bla bla...

Zion entendeu tudo, sua mãe também precisava dos óculos especiais, foi correndo em seu porão e fez uma copia para sua mamãe, bem bonita, rosa e com estrelinhas, e deu o presente!

Ao colocar os óculos, a mamãe de Zion, percebeu imediatamente como era importante tudo aquilo que seu filhinho dizia, que eram coisas simples, mas verdades simples não eram para deixar a vida complicada, eram para pintar as coisas de carinho e amor, e dali em diante passou a acreditar no seu filhinho e ouvir com atenção tudo o que ele dizia, e percebeu que o trabalho podia esperar quando o assunto era amor! E Zion ficou feliz novamente!

Sem pensar duas vezes, o menino Zion fez varias copias com vários modelos, todos bem bonitos, arrumou sua mochilinha, e saiu pela janela de seu quarto deixando um bilhete para sua mamãe dizendo assim:

FUI DISTRIBUIR AMOR AO MUNDO, VOLTO LOGO!

TE AMO QUERIDA MAMAE

ZION

E assim foi, distribui a todos seus óculos mágicos, ao dono da padaria que era muquirana, a mulher da janela que só fofocava o dia todo, ao casal da casa vizinha que brigavam sempre, ao menino mau da escola que sempre queria bater em todo mundo, ao cachorro bravo da esquina, ao homem de gravata que só queria trabalhar, a todos... no final do dia, Zion estava muito cansado, muito mesmo, e voltou para sua casinha bem feliz, mas pouco contente ainda, porque viu que só tinha conseguido distribuir seus óculos dentro de seu bairro, e para falar a verdade, só em um pedacinho de seu bairro, mas foi dormir, e sonhou com arco Iris e anjos, seus sonhos eram sempre lindos, sempre voava por ai e via um mundo florido e cheio de amor!

No outro dia o sol brilhou em sua cama esquentando o cobertor mais ainda e os passarinhos cantarolavam como todos os dias, para dar bom dia ao menino, e sentia o ar fresco que entrava pela greta aberta de sua janela, se espreguissou e levantou para mais um dia de trabalho duro, distribuir as copias de seus olhos para garantir um mundo mais feliz e cheio de amor, tomou seu café que sua mamãe tinha preparado, com cereais, suco de laranja e frutas bem deliciosas. Deu um beijo em sua mamãe e em seu papai que se preparava para trabalhar e saiu para completar sua missão, foi quando ao sair de casa viu uma coisa que não entendeu, passou uma senhora usando uma de suas copias no rosto, que parou e deu um bom dia todo colorido a Zion, mas o menino não Havia dado os óculos do amor aquela senhora, e confuso com aquilo, o menino perguntou aquela senhora com uma carinha feliz como ela tinha conseguido aqueles óculos do amor tão lindos, e ela respondeu que o amigo do neto do compadre do cunhado de seu marido tinha presenteado ela com aquele belo óculos do amor.

Foi então que Zion descobriu uma coisa muito importante e muito, mas muito legal, descobriu que seus óculos do amor se auto copiavam quando eram dados a alguém, e esta pessoa distribuía para mais alguém que também distribuía para mais alguém e assim acontecia...

Seu trabalho seria muito menor, e logo todo o mundo se enxeria de pessoas enxergando com olhos de criança e com muito amor no coração.

Zion então compreendeu e entendeu tudo bem rápido,

Entendeu que não precisava distribuir amor ao mundo todo, mas que bastava ele distribuir seus olhos do amor as pessoas que o cercavam, as que estavam pertinho mesmo, e estas, contaminadas com este amor e felicidade, logo distribuiriam o mesmo amor as pessoas que estavam pertinho delas e assim em diante, colorindo o mundo com poesia e coisas lindas e felizes. Zion então viu que bastava fazer a sua parte e acreditar nisso!

E o coraçãozinho de Zion ficou muito feliz, e percebeu que não era sozinho no mundo, que seu lugar era ali mesmo onde estava, e que as pessoas, nem sua rua e nem o bairro eram comuns, todos eram muito especiais e cheios de alegria, o que faltava, eram os óculos do amor!