(Imagem do Google)
Corujinha Clarice
Quando Corujinha Clarice nasceu, todos diziam que ela era a "cara" da avó paterna. Seus pais perceberam que a filhota tinha estrabismo, esperaram o momento certo para levá-la ao oftalmologista. O consultório do Doutor Clarindo era uma graça, a começar pela porta de entrada, ornamentada com olhos de cores diversas, uma belezura que vinha das mãos de um artista da região. As almofadas coloridas davam o ar da graça, graciosas também eram as imagens nas paredes com seus óculos despojados, até nas molduras viam-se desenhos de corujinhas com telescópios! Findada a consulta, os pais foram orientados pelo médico sobre as lentes dos óculos que deveriam ser cobertas por esparadrapos, alternando-se sete dias na lente esquerda e sete dias na lente direita. Papai e mamãe seguiram à risca as orientações médicas, corujando Clarice como nunca!
Nas brincadeiras com sua irmã mais velha, Clarice tropeçava, caía, embora não perdesse da infância a magia. Vaidosa que era, entre uma queda e outra, sua preocupação era ajeitar o arquinho de flores que enfeitava sua cabecinha. As duas irmãzinhas ficavam horas a fio nos galhos das mangueiras, visitavam o casal Maria e João-de-barro, encantavam-se com as folhinhas verdinhas das jabuticabeiras, brincavam de roda com as corujinhas da vizinhança, faziam suco de tamarindo e no mundo do faz de conta, viviam sorrindo.
E no dia de fazer pamonha? Seus olhinhos piscavam de felicidade! Toda a família participava: avós, tios e primos. Uns descascavam e ralavam o milho, outros cortavam generosos pedaços de queijo e Titina, a coruja mais simpática daquele clã, areava o tacho de cobre com laranjinha capeta, "só ocê vendo", era um brilho de dar gosto! Nesses momentos, Clarice tinha o encanto da cigarra, apoiava os pezinhos na cadeirinha de madeira, feita por seu avô e contava seus casos engraçados, divertindo a "corujada." Quando da primeira "tachada", vinha aquele aroma agradável, seus olhinhos sorriam feito o Palhaço Carequinha.
Os dias seguiam-se com o canto do Bem-te-vi, o gado sonolento nos pastos, contrastando com o alvoroço das galinhas garnizés e os queixumes da galinha d'angola. Ouvia-se ao longe, o som da Ave-Maria embalando o anoitecer dos beija-flores e das plantinhas multicores. Em dias chuvosos, a lama era cenário do rastro de pezinhos e desenhos feitos com gravetos pelas duas irmãzinhas, arte tão bela e tão singela! À noitinha, não adormeciam antes de brincarem com os vaga-lumes. Observar, observar e observar, o sono demorava pra chegar.
Eram amigas inseparáveis as duas corujinhas. Passou-se o tempo, a vida de cada uma tomou seu rumo, até que um dia, sem nenhum aviso, Clarice partiu, virou uma estrelinha: fica todo o tempo, pendurada na imensidão daquele céu, corujando sua irmãzinha com seus óculos cor de mel...
Nas brincadeiras com sua irmã mais velha, Clarice tropeçava, caía, embora não perdesse da infância a magia. Vaidosa que era, entre uma queda e outra, sua preocupação era ajeitar o arquinho de flores que enfeitava sua cabecinha. As duas irmãzinhas ficavam horas a fio nos galhos das mangueiras, visitavam o casal Maria e João-de-barro, encantavam-se com as folhinhas verdinhas das jabuticabeiras, brincavam de roda com as corujinhas da vizinhança, faziam suco de tamarindo e no mundo do faz de conta, viviam sorrindo.
E no dia de fazer pamonha? Seus olhinhos piscavam de felicidade! Toda a família participava: avós, tios e primos. Uns descascavam e ralavam o milho, outros cortavam generosos pedaços de queijo e Titina, a coruja mais simpática daquele clã, areava o tacho de cobre com laranjinha capeta, "só ocê vendo", era um brilho de dar gosto! Nesses momentos, Clarice tinha o encanto da cigarra, apoiava os pezinhos na cadeirinha de madeira, feita por seu avô e contava seus casos engraçados, divertindo a "corujada." Quando da primeira "tachada", vinha aquele aroma agradável, seus olhinhos sorriam feito o Palhaço Carequinha.
Os dias seguiam-se com o canto do Bem-te-vi, o gado sonolento nos pastos, contrastando com o alvoroço das galinhas garnizés e os queixumes da galinha d'angola. Ouvia-se ao longe, o som da Ave-Maria embalando o anoitecer dos beija-flores e das plantinhas multicores. Em dias chuvosos, a lama era cenário do rastro de pezinhos e desenhos feitos com gravetos pelas duas irmãzinhas, arte tão bela e tão singela! À noitinha, não adormeciam antes de brincarem com os vaga-lumes. Observar, observar e observar, o sono demorava pra chegar.
Eram amigas inseparáveis as duas corujinhas. Passou-se o tempo, a vida de cada uma tomou seu rumo, até que um dia, sem nenhum aviso, Clarice partiu, virou uma estrelinha: fica todo o tempo, pendurada na imensidão daquele céu, corujando sua irmãzinha com seus óculos cor de mel...