He-li-có-p-te-ro
Era manhã de sábado, muito sol,
Dia seco, mês de setembro, calor danado.
Meu Avô me pegou de bicicleta: "vem comigo!"
E logo desceu a ladeira, acelerado
"Tamo indo direto pra Barrinha,
vamos ver, que o troço vai descer no campinho"
Ele queria me mostrar algo novo,
eu enxerguei de longe, da garupa, no caminho
Gente curiosa, chegando, correndo:
"Vem político de Beagá, fazer reunião na cidade!"
Eu fui com meu avô, os colegas também foram
E o troço era um He-li-có-p-te-ro de verdade
Molecada apontando pra cima, chegou o bitelo
O "bicho" que voa parado, nem sei ao certo
Fazia bastante barulho e tremia geral
Pessoas de tudo que é idade, vindo ver de perto
Ele, He-li-có-p-te-ro, sem música, dançava no ar
Rasgando o vento sem dó, sem parar
Hélices gigantes, pra mim, bem mais que duas
Meu Vô assustado, encostou a barra-forte, parou de pedalar
"Barrinha" era um lugar aberto, onde se montavam os circos
Bairro com terrenos vagos, bom pro futebol
Naquele sábado ficou cheio, criança, cachorro, idoso...
Sombrinhas, terrão, córrego baixo, muito, muito sol...
Padre com a batina levantada, Jesus!
Muita gente curiosa na rua, pra todo lado,
Molecada de rosto largo, que gritaiada!
Gravata enforcando homem sério, engasgado
E o barulho aumentava, a cada minuto mais forte
Ele veio descendo com tudo, perto do gol da esquina
Eu, de cara, fiquei bobo, He-li-có-p-te-ro, nunca imaginei,
E, só se viu foi poeira, no olho de menino e menina
"Mas que poeeiirãão", gritou um velho dando risada
Folha seca, papel e lixo espalhado, igual roda-moinho,
Não teve uma saia de mulher que não levantou,
E o chapéu do meu vô, avoou, coitadiiinho...
Mulheres correndo pra dentro de casa,
Meninos, rindo sem parar, nem aí pros homens de terno que chegaram
Eu, só queria espiar, prestar atenção na máquina
imitação de beija-flor, ahh!! O He-li-có-p-te-ro,
coisa que faz menino de 8 anos se encantar
He-li-có-p-te-ro
Poema-livro infantil,
pra quem?
Pra Ana e Mari
e toda criançada do Brasil