Acerelar*

No penúltimo dia de férias, todos os amigos que estavam no sítio já haviam partido, eu, por outro lado, estava aqui esperando anoitecer. Brinquedos bons para dois ou mais tinham de monte, os de um, bem... não agradavam como deveria agradar por falta de olhares e competitividade. Então sentei na calçada, fiquei olhando o campo, a pista, os animais. Peguei um pedaço de mato, botei na boca, estiquei os braços e agora eu era Dactylon.

Colhi meu chapéu do canto, botei na cabeça. Com uma só mão, segurava o volante. Visão analisando os demais pilotos, a pista, o bandeirinha e o sinal. A outra mão estava nas marchas, freio de mão já havia sido liberado. Faço o sinal da cruz e as luzes começam a piscar, e o bandeirinha atento para sacudir a bandeira quadriculada. Tensão estava por cima. E foi dada a largada!

O cheiro dos pneus estavam por cima. Fumaça dos pilotos da frente dificultaram a vista, tive que me segurar pra não sair da corrida logo no início. - Uma brecha! - Adentrei e acelerei. Ganhei duas posições. O som do motor parecia legal, alguns pingos me davam a impressão de que mais tarde iria chover.

Max me pressionava pela esquerda, logo na curva, mas não posso ceder. - Preciso ganhar pelo menos em terceiro, se não os pontos não me darão chance de vencer o mundial. Ele vai ter que ceder! - Mantenho o carro e acelero, mas a coisa tá ficando feia, apertado na curva pelo lado e tem gente logo atrás. Só posso ir pra frente, se não estou fora. - Então é assim?! Acelera! - Na curva é perigoso acelerar, mas aqui tenho que tentar o máximo.

- Ufa! Consegui sobreviver. - Entretanto, não significava que estava livre deles, ali foi só uma curva, eles sempre apertam nas retas. Tenho que fazer o ronco do motor ser maior, ter maior velocidade. O vento ficava forte, o sacolejar da lataria me animava por mais e mais. - Eitha, Santiago Car... Tenho que reduzir. - Desacelerei, controlei, até tirei a mão do volante. Dar vergonha quando essas coisas acontecem e você nem nota. Tenho que esperar ele sair pra continuar.

Demorou um pouco, mas enfim ele vai sair. Olhei pros lados, fui pondo a mão no volante de vagarinho e, quando estava livre, acelerei. Quis nem saber. O ronco do motor chega ecoou. A certeza de chuva agora era real. Caiu um pingo no meu olho, mas nada que prejudique. Essa corrida vai ser longa. E é ela acabando e eu viajando de volta pra casa. Essa vida as vezes é muito boa.

Vruuum!!