Ana Luz E O Raio De Sol
Ana Luz E O Raio De Sol
Ana Luz era uma menina que gostava muito do Sol.
Todos os dias, logo que se levantava da cama pela manhã, antes mesmo de cumprir os seus deveres matinais, ela ia até a varanda de sua casa só para ver o brilho e admirar a imponente beleza do Astro Rei.
Um dia, Ana Luz teve uma ideia.
Pensou que, se ela pudesse ter o seu próprio raio de Sol, seria muito bom, pois ele brilharia somente para ela todas as manhãs. Assim, ela não precisaria sair do seu quarto quando quisesse ver e admirar o Sol.
Pensou também que, se isso acontecesse de verdade, seria ela a menina mais feliz de todo o Mundo.
Depois de muito pensar, Ana Luz pôs-se em ação.
Apressada, subiu até o seu quarto, de onde voltou trazendo nas mãos a bela caixinha de música que havia ganho de sua avó Luzia.
“Acho que não existe no Mundo quem não goste de música. Os raios de Sol devem gostar muito de música. Afinal, sempre que eles chegam, vêm acompanhados pelo canto dos pássaros que moram nas árvores. Penso então que, se eu puser pra tocar a música da caixinha que eu ganhei da vovó Luzia, pelo menos, um raio de Sol vai se sentir atraído pela música e vir até mim, que, se ele encontrar a caixinha de música aberta, vai querer entrar nela e que, se ele gostar da música que sai da caixinha como eu gosto, não vai querer sair de lá enquanto a música não terminar, o que vai me dar tempo suficiente para fechar bem a caixinha e prender dentro dela o raio de Sol. Se meus pensamentos estiverem certos, terei hoje mesmo o meu próprio raio de Sol. Um raio de Sol só para mim! Mal posso esperar por tanta felicidade!” – dizia a menina, pensando alto, ao mesmo tempo em que dava corda na caixinha.
As palavras de Ana Luz pareceram uma adivinhação.
Lentamente, a menina abriu a caixinha.
Docemente, a música fluiu no ar, como uma chuva de encantos.
No exato momento em que a música começava a tocar, um pequeno raio de Sol passeava pelo céu em companhia dos seus irmãos mais velhos.
A canção que se desprendia da caixinha chamou sua atenção. Era diferente de todas as que ele já tinha ouvido.
O pequeno raio de Sol sentiu-se encantado. Nada quis tanto quanto estar perto da estranha fonte de que parecia brotar aquela música tão especial.
Seus irmãos mais velhos o alertaram, dizendo que aquela música era perigosa e que a caixinha de onde ela saía era uma armadilha. No entanto, não houve jeito. Por mais que tentassem, os irmãos do pequeno raio de Sol não conseguiram convencê-lo do perigo que o aguardava caso ele insistisse em se aproximar de Ana Luz.
“O que essa menina da Terra quer é prender você na caixinha. Para que isso aconteça, é preciso que você se sinta atraído pela música e vá até ela. Se você fizer o que a menina da Terra quer, ficará preso na caixinha para sempre e nunca mais nos verá. Ouça o que eu digo, maninho! Não vá até lá! Nós não queremos te perder! Você é o nosso irmão mais novo! É nosso dever cuidar de você e proteger sua vida de qualquer perigo!” – foi o que lhe falou o mais velho dos irmãos que com ele passeavam.
o pequeno raio de Sol, entretanto, ignorou o conselho dos irmãos, aproximou-se rapidamente da menina e, num único salto, acomodou-se confortavelmente na caixinha.
Logo que percebeu a presença do pequeno raio de Sol no interior da sua caixinha de música, Ana Luz fechou-a apressadamente e, mais apressadamente ainda, dirigiu-se até o seu quarto, onde reconduziu a caixinha ao lugar em que costumava ficar guardada.
Terminada a captura do pequeno raio de Sol, o dia correu normalmente para Ana Luz.
A menina almoçou, escovou os dentes, tomou banho, vestiu seu uniforme, foi à escola, estudou, voltou para casa, fez os deveres, jantou, tornou a escovar os dentes, deu “Boa Noite!” a seus pais, deitou-se em sua cama, rezou e logo adormeceu.
Para o pequeno raio de Sol, porém, o dia se mostrou bem diferente.
Assim que a música da caixinha de Ana Luz acabou de soar, ele percebeu que estava preso.
Seus irmãos mais velhos tinham razão. Ele nunca mais os veria.
Um misto de saudade e desespero começou a apoderar-se do coração do pequeno raio de Sol.
Ele chorava copiosamente, mas, ninguém o ouvia.
No dia seguinte, Ana Luz acordou mais cedo do que de costume.
Mais do que depressa, abriu sua caixinha de música. Contudo, o que seus olhos viram não foi aquilo que esperavam ver.
No fundo da caixinha, o pequeno raio de Sol exibia uma luz quase morta, o que deixou a menina muito triste.
Ana Luz, não conseguindo compreender o que via e a fim de saber o que se passava, disse ao pequeno raio de Sol as seguintes palavras:
“O que foi que aconteceu com você, eim, pequeno raio de Sol? Ontem você estava tão bonito! Tão brilhante! Tão vivo! Por que é que hoje você não está mais assim? Foi alguma coisa que eu te fiz? Se foi, conta pra mim! Não me agrada ver você assim! Tão triste! Você é um raio de Sol! Sua missão é alegrar quem te vê! Foi por isso que eu te prendi na minha caixinha de música e te trouxe até aqui! Para me alegrar todas as manhãs!”
Com voz fraca, o pequeno raio de Sol respondeu as palavras de Ana Luz, dizendo:
“Você tem razão. Ontem eu estava bonito, brilhante e vivo. Estava assim porque meus irmãos estavam comigo. Mas, você me prendeu na sua caixinha de música. E, agora, eu nunca mais poderei ver os meus irmãos. Estou com muita saudade deles. Além disso, assim como a sua casa é o seu lugar, o meu lugar é o céu. Estou com saudade do céu e dos meus irmãos e, se passar mais tempo preso aqui, longe deles, vou acabar morrendo. Sei que não é isso o que você quer. Por isso, te peço que me deixe voltar ao céu e à companhia dos meus irmãos. Se você me deixar voltar, prometo que todos os dias, assim que te avistar, virei correndo dar um beijo em sua testa.”
As palavras ditas pelo pequeno raio de Sol sensibilizaram profundamente o coração de Ana Luz, que, assim que pôde, o libertou.
A promessa foi cumprida.
Todos os dias, logo que a avistava, o pequeno raio de Sol ia ao encontro de Ana Luz e a cumprimentava com um carinhoso beijo na Testa.
Foi assim que Ana Luz aprendeu o significado da palavra “Liberdade”.
Hebane Lucácius