" A PRINCESA E A HERDEIRA"

" A PRINCESA E A HERDEIRA"

Terras e mais terras circundavam a grande casa , a qual muito tempo atrás havia sido construída... Árvores das mais variadas espécies foram cortadas, matas não aguentaram o trabalhar sem fim dos machados e assim inúmeras espécies animais perderam seus lares para que o ideal mesquinho de um mau homem se concretizasse.

Sua mulher era linda, sensível,inteligente e nas horas vagas gostava de tocar piano. Ultimamente andava tristonha pelos cantos, pois não ouvia sequer um único trinado de pássaros por aquelas bandas...

Uma grande alegria,porém se avizinhava naquele cenário de tristeza e destruição... Dona Mariazinha como carinhosamente era chamada por todos estava esperando um filho... Sua barriga estava grande, seu olhar meigo se desmanchava de amor cada vez que pousava seu sorriso no bercinho de jacarandá ao imaginar sua filhinha dormindo abençoada por todos os anjinhos que de em quando visitam a Terra...

De repente um ruído aparentemente desconhecido apavora os moradores da casa... Em que consistiria de fato tal barulho? Parecia um rugido de onça ou algo assim...

A curiosidade é má conselheira, e Joaquim transtornado pelo sabor de aventura decide investigar. Ordena então aos capatazes da fazenda que voltem à sala de armas e saiam de lá bem municiados. A tarde de caça estaria apenas começando...

O peso da espingarda aos poucos vai retirando as forças do fazendeiro... Mas, agora é tarde! Não poderia dar parte de fraco aos seus empregados! Imagine! Desistir antes de começar da empreitada seria algo extremamente vergonhoso... E ele homem rico,respeitável, valente, dominador e tirano não passaria por um vexame desta ordem!

Os rugidos se amiudam... Estão cada vez mais fortes, ameaçadores e inconfundíveis!

_ Seu Joaquim, é uma onça!

_ Onça pintada? Deve estar com cria. Preciso proteger meu rebanho...

- É uma onça mesmo, seu Joaquim! E está levando a cria na boca! Mas, não vai ser preciso "matar ela" não! Ela já está fugindo!

_ Qual o quê protestou Joaquim! Estou precisando mesmo de uma bonita pele para fazer um tapete para minha sala!

Ato contínuo, o fazendeiro saca sua espingarda faz uma mira certeira e bum! A onça cai desfalecida ao chão!

- O que estão esperando bando de inúteis? Ajudem-me a levar o bichão para o interior da fazenda. Hoje mesmo sua pele será posta ao sol para ser curtida.

Cansadíssimos após desenvolver a ingratíssima tarefa os homens não percebem a saída estratégica do indefeso filhote. À espera da oncinha encontra-se uma outra onça que com muito amor e carinho a conduz para uma outra fazenda longe dali...

Três meses se passam... Dona Mariazinha dá então luz à uma bonita criança de cabelos negros, anelados e de olhos grandes e castanhos. Toda brandura existente em mundo feito de pureza e sabedoria se manifestam no olhar amoroso daquela menininha tão especial... Seu risinho inocente abarca toda alegria de um tempo para muitos perdido...

O tempo corre como um cavalo alado. Nininha conta agora três anos de idade,e é uma menininha alegre, cheia de vida e muito travessa. Sua mãe Mariazinha está cada vez mais triste e só não sucumbiu à melancolia pois encontrou em Nininha a razão para seu viver...

Em uma tarde quente e abafada a sala de visitas da fazenda está repleta de políticos da região. Gesticulam, falam alto, comem vorazmente e não notam as peraltices da ingênua garotinha que ignorando os perigos da vida real está brincando no parapeito da enorme janela da fazenda.

Perto dali uma onça já adulta observa a cena. Reconhece a voz da criança repleta de ternura e inocência... Olha para a "cria do bicho homem" com uma infinita amizade!

A "grande gata da floresta" enche então o peito de ar e corre em desabalada carreira em direção à Nininha. Coloca-a em sua boca, leva-a para frente da sede da fazenda e ruge para chamar atenção de Dona Mariazinha.

Visivelmente, atônita Dona Mariazinha desce com dificuldade a escadaria da entrada da fazenda. Desesperada grita:

_ Você é um animal selvagem! Como salvou minha filhinha?

_Sou um animal sim, responde a onça. Mas, recebi boa educação e evoluí bastante. Não posso mais ser considerada feroz ou perigosa!

_No passado seu marido matou minha mãe para fazer de sua pele fonte de renda ou embelezar sua sala com um bonito tapete. Uma bondosa onça de nome Fada me criou em uma fazenda onde os proprietários respeitam os animais como irmãos. Muitas vezes senti saudade de minha mamãe, entretanto entendi que minha dor não poderia se transformar em vingança. Não queria que a senhora passasse a sua vida inteira a chorar pelo falecimento de sua pequena Nininha.

Emocionada, Dona Mariazinha caminha em direção à onça e em um gesto de agradecimento se ajoelha defronte a ela. Com suas as mãos leves acaricia a cabeça do grande felino e com a voz entrecortada de emoção pergunta pelo seu nome.

_ Como você se chama ,minha amiga?

_ Meu nome é Princesa responde a onça.

_ É de fato uma Princesa muito bela e dona de um coração justo e benévolo!

_ Cuide bem de sua filha Dona Mariazinha, pois ela é a herdeira...

_ Herdeira do quê, Princesa? Deste centro de mazelas e desilusões?

_ Não, dona Mariazinha.. Ela é a herdeira das graças de Deus... Veio ao mundo para proteger todos os bichinhos que estão vivendo sobre este planeta...

Noventa sete e anos são passados desde este notável acontecimento.

Nininha está velhinha, acamada e para muitos dorme um sono que aparenta ser eterno... Filhos, netos e bisnetos estão ao seu lado para despedida.

Na velha sala da fazenda Estela está confortavelmente sentada em uma cadeira de balanço quando em um dado momento se apercebe da presença da onça Graciosa. Fora ela a única a herdar o dom de sua bisavó Mariazinha consistente em escutar,falar e entender os animais...

_ Graciosa, que bom que veio minha querida! Você sabe o que aconteceu não é mesmo?

_ Sim eu sei, Estelinha. A sua avozinha Nininha será recebida com festa no céu! Todos os animais que ela defendeu,protegeu e amou estão esperando para lhe dar um grande abraço! Deus estará cuidando dela em sua nova fase de existência. Nada termina aqui,minha amada amiga!

_Graciosa, eu me lembro muito bem das estórias que minha bisavó Mariazinha contava para mim quando criança... Como ela estava bem velhinha muitos achavam que ela estava caducando... Mas, cada vez que uma onça aparecia por estes rincões todos pensavam ser a sua bisavó Princesa e assim o animal não era abatido.

_ Nossas bisavós foram amigas a vida inteira, Estelinha... Sua avó Nininha muito brincou com minha bisavó Princesa quando criança. Elas se entendiam muito bem! "A grande gata " da floresta sempre a protegeu de todos os males! Nunca uma cobra, aranha ou escorpião picou sua avozinha... Todos sabiam que sua vida era sagrada!

_Graciosa... Nenhuma vida é superior a outra! Todos somos filhos de Deus, irmãos e temos o dever de cuidar para que nosso mundo seja preservado da maldade,ganância, guerras e tudo mais que a tudo e a todos destrói!

E assim unidas a moça e a onça dão se "as mãos"... Continuam a lutar pela manutenção de um meio ambiente saudável, com ar puro, matas verdejantes, com animais saltitando aqui e acolá. A amizade entre elas alcançou o êxito almejado! Do outro lado do mundo, Nininha apesar de velhinha corre, fala, e feliz conta a todos animaizinhos que a irmandade absoluta entre homem e bichinhos está prestes a virar realidade!

E com um sorriso lindo, radiante, pleno de esperança e bondade a herdeira das graças de Deus diz:

_ Só depende de todos nós!

Nota da Recantista: Dedico este texto à uma menininha linda, graciosa,inteligente que no mês de março completou seu segundo ano de vida para incontestável alegria de todos que a amam! Amamos, você adorável menina! Que Deus te abençoe para todo o sempre!

Ivone Maria Rocha Garcia
Enviado por Ivone Maria Rocha Garcia em 24/04/2014
Reeditado em 02/01/2017
Código do texto: T4781173
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