O Primeiro Gelinho

A casa ainda está lá de pé na Rua Rio Grande do Sul e é com uma disfarçada emoção que passo na porta, quando faço minhas caminhadas matinais. A fachada externa permanece a mesma, o alpendre com algumas pequenas modificações. Ali vivi os momentos inocentes de minha infância. Aos dois anos uma brava coqueluche por pouco não me apaga. Meu irmãozinho Divino, com apenas 45 dias de vida, não teve as forças necessárias para superá-la. Minha primeira boneca, o quintal que para mim era um grande pomar, as colméias, a cisterna com aquela água puríssima, o porão, o pé de amora e outras lembranças permanecem daquela singela casinha, com alpendre e duas janelas!

Foi lá que fiz a descoberta do estado sólido da água.

- Está armando muita chuva, disse-nos mamãe. Vamos fechar as janelas e colocar um pano no espelho.

Daí a pouco escutamos o barulhinho da água caindo. De repente, mamãe ficou meio assustada:

- Nossa Senhora, está chovendo pedra! Vai estragar minha horta de couve!

Percebemos, então, que inúmeras pedrinhas caiam na vidraça. Para mim, que tinha uns três anos, aquilo era uma graça: chuva de pedras!

Assim que passou a chuva, que foi rápida, acompanhei minha irmã Luzia até o quintal. Ainda conseguimos, com entusiasmo, catar algumas pedrinhas pequeninas. Eram colocadas na boca e logo se dissolviam para nosso pesar. Dentro de poucos minutos nenhuma mais se via.

Luzia e eu olhávamos para o céu, torcendo para que chovessem mais pedrinhas, enquanto minha mãe conferia o estrago em sua horta.

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 20/03/2007
Reeditado em 20/03/2007
Código do texto: T419874
Classificação de conteúdo: seguro