O MENINO QUE QUERIA CONHECER O CÉU
Muuuuito, muito distante daqui, nas terras longínquas de além mar, havia um reino encantado. Ali numa noite de tempestade, em que os ventos uivavam como cães ferozes, num casebre de madeira uma pobre mulher grávida estava prestes a dar à luz. Em meio a raios e trovões, nasceu um pequenino menino de olhos arregalados. Após seu nascimento, a mãe sem forças caiu desfalecida. A chuva caia impiedosamente sobre todo o reino e a criança chorou por três dias, sem que ninguém ouvisse seus gritos.
Passada a tempestade, um fidalgo que havia se escondido da chuva em uma caverna, passava por ali em busca do caminho de casa. Ouviu os gritos do bebê e adentrou o casebre que já se desmoronava por força das fortes chuvas. O nobre cidadão do reino encontrou a criança recém nascida e a mãe sem vida. Decidiu cavar e sepultá-la ali mesmo no chão da cabana. Pegou a criança no colo envolvendo-a em cobertores e ganhou a estrada.
O fidalgo era filho de um rei muito bondoso que conhecendo a infeliz história do pequenino, permitiu que as amas do palácio amamentassem e criasse o bebê a quem deram o nome de Marcelino. O menino cresceu entre os filhos do rei e das criadas. Porém, era imensamente infeliz, pois todas as crianças do reino tinham pai e mãe enquanto que dele ninguém sabia onde estavam seus pais. Quando procurava por eles, diziam-lhe as amas, que não sabiam quem era seu pai, e que sua mãe fora morar no céu quando ele ainda era um bebezinho.
Desde então Marcelino queria conhecer o céu. O menino já contava com uns oito anos de idade e tinha uma cega obsessão por conhecer o céu. Pensava que se fosse lá longe, na linha do horizonte e subisse uma montanha bem alta, poderia alcançar o céu. Mas lá chegando percebia que o céu estava cada vez mais e mais longe.
Certa vez viu um arco íris completo. Um arco perfeito com todas as cores à vista. Foi a visão mais linda que já tivera em toda sua vida. Marcelino saiu correndo desatinado, em busca do riacho onde ele estava a beber água, dizendo que subiria por ele e chegaria até o céu e lá encontraria sua linda mãezinha.
Marcelino correu, correu e correu... Atravessou vales, montanhas, cruzou cercas e rios. Mas o arco íris parecia que estava ainda longe, cada vez mais longe até se desfazer completamente apagando-se no céu.
Então o menino parou e ficou desolado, olhando aquela imagem esmaecida. Sentou-se no chão e chorou amargamente. Depois de muito chorar, percebeu que havia andado tanto que se perdera completamente. Não sabia onde estava. Tudo em volta era mato. Árvores imensas arranhavam o céu e a tarde já se fazia calada deixando cair uma inquietante penumbra. E quando se deu por conta, percebeu que estava na floresta. De sobressalto levantou-se e tentou achar a saída. E agora! Já havia ouvido as terríveis histórias da floresta encantada. Ali apareciam monstros e bruxas. As árvores criavam vida e abraçavam as pessoas que ali se perdiam, sufocando-as até a morte. As histórias se divergiam e viravam lendas, pois não consta de nenhuma pessoa que tenha voltado ao reino depois de cair nas malhas da floresta. Marcelino teve muito medo. Caiu em grande pranto e chamava por sua mãe:
_Mãezinha! Mãezinha! Acuda-me, estou perdido.
Chorou, chorou e corria em todas as direções. Cada corrida que dava, parecia-lhe retornar ao mesmo local. Tudo era tão parecido! As árvores, os cipós, as raízes imensas que o fazia tropeçar a todo instante, todos os lugares lhe pareciam iguais. Por fim, sentou-se ao pé de uma velha árvore e ficou a esperar o que seria seu fim. Às vezes pensava que seria enlaçado pelos cipós e engolido pela floresta. Outras vezes o som de um barulho lhe pareia enorme e ele imaginava ser um monstro gigantesco, até deparar-se com um pequeno esquilo saltitando entre os galhos.
Na dolorosa concentração para adivinhar qual seria a terrível fera que iria aparecer a qualquer momento para lhe devorar, adormeceu. A grande árvore criou vida, afofou seus galhos mais baixos para servir-lhe de travesseiro. Com ajuda da brisa balançava-se pra lá e pra cá num balé calmo e tranquilo refrescando o ar para que ele dormisse em paz. De repente apareceram pequenas criaturas que acordaram Marcelino. Ele ficou apavorado, eram homenzinhos do tamanho do palmo de sua mão. Muitos! Um verdadeiro exército deles. Usavam roupas folgadas, chapéus molengos, pendidos para o lado e botas que iam até os joelhos. Não se podiam ver nitidamente seus rostos que eram muito parecidos, mas os olhos tinham um brilho que Marcelino jamais iria esquecer. Eles sorriam, sorriam muito, pareciam muito felizes de tê-lo encontrado, mas não falavam. Comunicavam-se em murmúrio e trabalhavam rápido demais. Corriam para todos os lados e traziam coisas para ele. Frutas tenras e maduras, castanhas e uma deliciosa porção de mel numa casca de coco. Marcelino perguntava:
_Quem são vocês?
Mas eles apenas sorriam... Outras criaturas apareceram. Um pônei branco que possuía um chifre no meio da testa, uma coleção de borboletas enormes de cores fulgurantes, um beija-flor azul que ora era pássaro, ora era uma bailarina. Marcelino então se lembrou que estava na floresta encantada e das histórias. Na verdade as criaturas não eram monstros e nem tampouco bruxas. Eram duendes e fadas. Ele estava tão encantado com as criaturas que nem percebeu que a tarde se fez mais escura e logo surgiu a primeira estrela no céu. Era uma estrela bem grande e tão cintilante que Marcelino não conseguia parar de olhar para ela. De repente a estrela se fez uma grande luz e estendeu seus raios sobre a terra até a raiz da árvore onde Marcelino estava.
O raio cintilante transformou-se num lindo tapete prateado e todas as criaturinhas convidavam o menino a subir pelo raio da estrela. Marcelino levantou-se e tocou de leve com o pé direito o tapete prateado. Era sólido. E o mais interessante é que ele ia até o céu. Então Marcelino colocou de novo um pé, depois o outro e começou a andar. Sentiu medo e parou. Mas o céu era onde estava sua mãezinha, o céu que ele queria tanto conhecer e a estrela seguia para lá. Então criou uma grande coragem e começou a subir, primeiro devagarinho, depois apressadamente. E todos os seres encantados subiram no tapete junto dele. Ele subia cada vez mais rápido, mais rápido, tão rápido que até corria. Quando chegou perto da majestosa estrela, ela abriu-se numa grande porta cintilante e Marcelino entrou.
Marcelino estava no céu! Também estava fascinado com tanta luz e tantas cores. Tudo era colorido, as cores cintilavam. Imensos jardins de variadas flores se espraiavam até onde sua vista alcançava. As pessoas andavam descalças sob a relva macia. Todos usavam o mesmo traje e todas sorriam. Havia anjos pequenos e grandes, loiros e negros. Por todos os lados havia anjos. Um deles veio a seu encontro, era uma linda mulher de assas fulgurantes que se ajoelhou perto dele. Marcelino a abraçou e perguntou:
_ Mamãe?
_ Sim filho querido! Sou sua mãe! Mas aqui é o céu, e no céu não existem mães nem pais e nem filhos. Todos somos filhos do Grande Pai que a todos governa por igual.
_Mamãe, você é linda! Deixe-me ficar com você.
_ Oh meu amado filho! Não posso querer-te ao meu lado, pois quero muito que você viva. Aqui é um lugar lindo, mas é para aqueles que já cumpriram sua missão na terra. A vida é linda! E você terá muitas alegrias e serás muito, muito feliz! Caminharam de mãos dadas pelos jardins e a mãe de Marcelino lhe contou muitas historias lindas. A noite, que no céu era iluminada por uma luz radiante, passou tão depressa que num piscar de olhos o momento da partida chegou. A mãe então lhe contou uma última historia:
“ Filho, a fada do sono te fez adormecer naquela floresta e sonhar esse sonho lindo. Ela trouxe você nesse belo passeio só para ver-me. Mas isso é um grande sonho e dentro de poucas horas você vai acordar. Leve contigo meu grande abraço e meus beijos cheios de ternura. Foram eles que embalaram seu sono durante todas as suas noites. Eu te amo e continuarei te amando eternamente. Não temas! Eu continuarei velando seu sono e seus passos durante toda sua vida, Deus permitiu que eu fosse o seu anjo de guarda, para guiar e proteger seus passos. Eis que tocaram a grande trombeta. É hora de partir. Vá meu filho, retorne ao raio da estrela antes que o sol apareça, pois se o sol nascer, você nunca mais poderá encontrá-la para levá-lo de volta. Vá, vá ser feliz, que o mundo e a felicidade te esperam.”
O soar de uma trombeta despertou Marcelino do grande sono em que se achava. Eram os cavaleiros do reino que estavam à sua procura. Marcelino gritou o mais forte que seus pulmões permitiram, até que os cavaleiros o localizaram e o levaram para o palácio são e salvo. Marcelino a partir de então, foi uma criança muito feliz. Desde esse dia, sempre que estava sozinho, rezava a oração do anjo da guarda e nesse momento sentia a doce presença de sua mãezinha a tocar seus cabelos...