Dida, uma carioquinha no Agreste

Na frente da casinha dos avós de Dida, sempre que chovia um ribeirinho aparecia na estrada de terra, apesar daquela região ser meio seca. Também havia uma pedra gigantesca no outro lado da estrada de terra, e do lado da casa havia um terreno baldio que tinha bastante cacareco velho e lixo.

Esta combinação toda era praticamente uma "Disneilândia" para Dida. Ela brincava de lavar louça, de barquinho e de pirata no ribeirinho; sempre molhava seus pezinhos na água corrente tão tímida. Via o ribeirinho e se lembrava dos valões na cidade onde ela morava.

--- Onde eu moro só tem aqueles riozinhos que fedem, nem dá pra brincar que nem aqui. Vou falar pra minha mãe mandar o prefeito limpar o rio.

Como lá ela não tinha brinquedos, ela ia para o terreno baldio e pegava qualquer coisa que servisse para sua brincadeira. Pegava casca de coco para fazer de panelinha, as folhas para fazer comidinha, os canos para fazer de espada ou de colher de pau para um caldeirão que era um balde furado. Via o terreno cheio de coisa inútil jogada fora e se lembrava de como ela não podia guardar nada de legal que achava na rua, pois sua mãe dizia que tudo que não tinah sido comprado na loja era sujo e portanto lixo.

--- Onde eu moro, a gente joga tudo fora. Nem dá pra usar nada pra brincar, só posso brincar com as bonecas que minha mãe me dá.

A pedra gigante para ela era o local de aventuras. Dida subia na pedra devagar, colocando a palma da mão na superfície da pedra pra não escorregar. Imaginava mil cenários. Via a pedra gigante e se lembrava de como não podia nem subir sozinha a escada que não tinha corrimão de sua casa.

--- Onde eu moro, minha mãe não me deixa subir nem a escada sem corrimão. Aqui eu posso escalar e correr! E cair e me machucar, sem ela perceber e sem ela reclamar.

O que mais encantava Dida era como a estrada era cheia de areia e pedrinhas. Ela catava as pedrinhas e fazia de moedinhas de mentirinha, cavava buracos e fingia que estava escondendo um tesouro de pedrinhas preciosas. Via o chão de terra e lembrava do chão do quintal de azuleijo de sua casa e também do asfalto das estradas.

--- Onde eu moro, o chão é duro! Não dá para cavar e brincar de tesouro, nem muito menos usar a areia para temperar minha comidinha de mentirinha.

Dida mal sabia que tudo aquilo que ela tanto queria era considerado pobreza pelas pessoas da cidadezinha e também pelas pessoas que vinham de sua cidade grande. Todo o tempo que passou naquele local, ela queria ter a sorte daquelas crianças "ricas" que possuiam um ribeirinho, um terreno cheio de achados e uma pedra gigante exclusiva para escalar.

Perle
Enviado por Perle em 25/08/2012
Reeditado em 25/08/2012
Código do texto: T3849219
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