Foto de Feitosa dos Santos - Floresta Desencantada 
 

O MACACO MOLENGA

Certa vez, numa floresta desencantada, onde as pessoas podiam conviver com os bichinhos da mata, embora cada um em seu devido território eram todos muito felizes.
As margem de um riacho de nome Guaporama, sobre uma frondosa guararema, morava uma família de macacos muitos espertos e talentosos. Mas o macaco Tonhoco, o terceiro filho do casal, não nascera com os predicados de expertise da família. Por assim ser, o apelidaram de “Macaco Molenga”.
Todos da família sentiam muito ao ver e ouvir os outros animais, caçoarem do Tonhoco. Este, porém, não estava nem ali, não era com ele.
Molenga, como era chamado, odiava subir nas arvores, não apanhava os melhores frutos e tão pouco comia as melhores resinas, nos topos das arvores. Preferia catar os restos dos frutos deixados pelos irmãos e amigos, que de nada tinham medo, e subiam nas copas mais altas da floresta desencantada.
Molenga não gostava de tomar banho, tinha um cheiro forte, e este odor espantava todos os insetos, que por ventura ousassem aproximar-se dele. Visto isso, dormia sossegado em qualquer lugar. Andava pouco e reclamava muito do barulho da bicharada.
Um dia, porém, Tonhoco resolveu caminhar um pouco mais para dentro da mata, comia uma coisinha aqui, outra ali, dormia um pouquinho e caminhava cada vez mais para dentro da floresta. De repente, deparou-se com um grande favo de mel, depositado em um toco de arvore.
Todas as abelhas haviam saído para apanharem o néctar das flores. Molenga olhou o favo e não se conteve, nunca havia provado um mel tão delicioso, tão nutritivo. Lambeu todo o mel que podia, lambuzou-se a vontade sobre os favos da colmeia.
A abelha rainha, a única que permanecia na colmeia, por não ter azas para voar, quase morre afogada no seu próprio mel.
Depois da farra e da lambança, molenga meio tonto, mel demais embriaga, deitou-se para tirar uma soneca.
Os insetos fizeram a festa, em virtude do doce, picaram o Molenga à vontade, ele se contorcia em cima das folhas, e estas iam ficando grudadas em seu pelo em virtude do mel que ele mesmo lambuzou por sobre o corpo.
Já beirava a noitinha quando o Molenga despertou e ainda meio tonto, viu chegar o enxame de abelhas da colmeia, estas ao ver o ocorrido, partiram para o ataque ao Molenga, que se viu aferroado por todos os lados. Saiu em disparada, subia e pulava nas arvores como se fosse um exímio atleta dos galhos.
Cansado e esbaforido, chegou as margem do riacho, onde ficava sua residência, a família, os amigos e outros animaizinhos, que conversavam em torno de uma fogueira, ficaram apavorados ao ver aquela figura, coberta de folhas, flores e fiapos, inchado como um baiacu. Todos trataram de correr, subir nas copas mais altas, ali por perto, assustados com aquele “folharal” que se movia.
Espiavam tentando reconhecer aquela espécie, nunca vista na região. Todos se perguntavam que animal é este? Será ele briguento? Como deve se chamar? Os seus companheiros ficaram de longe observando qual seria a sua atitude.
Até que o Tonhoco, Molenga como era chamado pelos outros da mata, se identificou. Gente sou eu o Tonhoco. Todos responderam de uma só vez, inclusive sua família: Molenga!... Aos poucos foram se achegando, meios ressabiados e curiosos com o acontecido. Com cuidado para não arrancar os pelos, foram removendo as folhas, os fiapos e as flores do seu corpo, e verificaram que o Tonhoco havia sido picado por vários tipos de insetos. Ele ficou de quarentena sendo tratado das picadas por um bom tempo.
Molenga aprendeu algumas lições importantes: não se mexe no que não nos pertence, tão pouco devemos nos afastar dos familiares e amigos e aventuras só em família, em equipe e nunca sozinhos.
Quando Tonhoco ficou bom, todos se reuniram as margens do riacho Guaporama para comemorar com um banquete de deliciosos frutos, antes, porém, todos bradaram em tom de desabafo: aprendeu a lição Molenga?
 
                  Rio, 01/05/2012
                Feitosa dos Santos