A DOR DA FLOR

Num lugar não muito longe, havia um jardim esplêndido, onde o verde das folhas e o colorido das flores balançavam ao sabor do vento e cintilavam com os raios do Sol.

Os animaizinhos pequenos habitavam felizes aquele paraíso de cores, aromas e paz.

Mas, mesmo diante de tanta harmonia e beleza, havia uma pequena flor que se sentia triste, muito triste mesmo!

Sentia um sentimento dentro do seu coraçãozinho de flor que o tornava cinza e seus olhinhos de flor não mais enxergavam o colorido que imperava naquele pedacinho do mundo.

A florzinha queria encontrar felicidade em outro lugar, mas seus pés não saiam do chão. Lamentava sua triste condição e passava os dias, solitária, imaginando e querendo ser o que não era.

...” Se eu fosse uma borboleta, um pássaro ou outro habitante do céu ou da terra poderia experimentar as alturas, conhecer outros lugares, beber de outras fontes...”

Os dias eram longos e tristes. A florzinha aos poucos foi descorando, perdendo o viço e nem mais o vento conseguia soprar suas pétalas, pois foram ficando rígidas, com rígido também ficou seu talo.

Sofria por não ter pés para correr, por não ter asas para voar. Desejando ser o que não era, perdeu a idéia do que era...

Mas, o anjo das flores, de perto espiava a triste condição da florzinha.

Queria encher o seu coraçãozinho de alegria, embora soubesse que esta magia não poderia acontecer de fora para dentro.

O anjo resolveu dar apenas um empurrãozinho!

Fez com que ela adormecesse e sonhasse. Então a florzinha adormeceu... e a florzinha sonhou...

Sonhou o seu jardim triste e sombrio, sem brilho, sem cor, pois todos os seus habitantes não estavam satisfeitos com o que tinham e com o que eram.

Uns tentavam imitar outros, alguns por inveja, deixaram de se falar; outros ainda, promoviam a discórdia. E, neste espetáculo triste de insatisfação, as folhas secaram, as flores murcharam, as cores desbotaram, as asas pesaram, as águas escureceram e o jardim encantado, desencantou.

A florzinha assistia a tudo com dor no coração, aprendendo a duras penas a lição.

Chorou angustiada ao ver o jardim esmaecer. Tantas foram suas lágrimas que aqueceram seu corpinho rijo, amolecendo, lavando, serenando o seu coração.

A florzinha despertou depois de longas horas de choro. Qual não fora a sua alegria ao perceber que o jardim encantado e tudo o que nele habitava, continuava com antes.

Não... Olhando melhor a florzinha pôde perceber grandes transformações. As cores, o vento, o Sol, os bichinhos alados, aquáticos, terrestres, tudo e todos apresentavam um brilho especial.

Os olhos da florzinha já não eram os mesmos. Agora podia apreciar tudo aquilo que antes não conseguia mais enxergar. Libertou-se. Suas raízes não eram mais uma prisão.

Não mais se sentia imóvel, pois sua alma voava, suas idéias viajavam e seu coração agora estava grande, fortalecido e feliz.

A florzinha entendera finalmente que era parte importante daquele paraíso. Tão importante quanto cada serzinho, cada raiozinho de sol, gota de orvalho, grão de areia... E sentiu-se muito, muito feliz.

Valéria Escobar

Algum dia em 2008