Lilu, a Bruxinha que queria ser criança
LILU era uma bruxinha boa. Nunca havia conseguido fazer um só feitiço, porque seu coração era bom e tudo que tocava, recebia uma energia boa que vinha do bem. As outras bruxas mais velhas, viviam implicando com ela, porque ela sempre fazia coisa boas. Como correr atrás das borboletas, cheirar os cravos dos jardins e voar com os beijaflores. Por isso, ficava sempre à parte das outras bruxas e sonhava; sonhava muito, sonhava que um dia iria viver no mundo das crianças.
Lilu achava que as crianças normais eram muito felizes. Espreitava-as escondida, enquanto brincavam no pátio da escola. Adorava ver as brincadeiras de roda, de pique-esconde e de cantar versos. Mas as bruxas mais velhas sempre a repreendia.
_LILU!!! _ gritava a bruxa velha Ravel. _ Sai já daí!!! Não sabe que as crianças não podem nos ver?
_ Mas, Tia Ravel, as crianças não podem ver as bruxas...
– É, mas você tem que aprender uma coisa Lilu, muitas crianças nascem com sangue roxo.
_ Sangue Roxo?? Mas todo sangue é roxo ora!!
_ Não, não, não senhora Lilu, só as bruxas possuem sangue roxo. Os humanos normais possuem o sangue vermelho, mas em algumas famílias de gerações muito antigas, podem nascer crianças com o sangue roxo, e aí essas crianças podem ver as bruxas, entendeu:
_ Ah! Agora entendi uma coisa...
– Que coisa menina do que você está falando hein??
_ Nada, Tia Ravel, nada.
_ Isso não me está cheirando bem, afaste já desta escola, pois isso ainda vai nos trazer problemas.
_Está Bem tia Ravel, estou indo, estou indo ...
Lilu havia se lembrado, que certo dia um menino havia fixado os olhos nela, como que se a estivesse vendo. Aí ela montou em sua vassoura e zaz, vazou. Mas, Lilu não conseguia esquecer aquele menino, seus olhos azuis ficaram gravados para sempre em sua mente. Ele lhe parecia tão bom.
Certo dia Lilu estava escondida atrás do portão da escola, observando as crianças brincarem. De repente; ela viu o menino de olhos azuis! Ele estava brincando de pique-esconde com outros garotos e entrou numa sala para se esconder. Lilu encheu-se de coragem, montou sua vassoura e Vupt!! Voou para a sala onde o menino entrara. Era a biblioteca, uma sala cheia de prateleiras que iam até o teto; as prateleiras estavam cheia de livros e cartazes coloridos. Lilu entrou devagarzinho, como medo de ser vista pelo menino de olhos azuis. Ele estava escondidinho, debaixo da mesa. Quando ouviu o seu colega gritar:
_Pique! Preso! Encontrei o Kico lá na Biblioteca!
Kiko sai do esconderijo e dá de cara com a bruxinha. Pasmo ele fala gaguejando.
_Mmmeu Deeeeeus! Eu tô vendo uma BRUUUUUUUXA!!!
_ A bruxinha mais apavorada ainda que o menino Grita também:
_ Você pode me ver???
_ Cccclaro vvvocê está aí ó, na minha frente ora!!!
Lilu se lembra das recomendações de Tia Ravel e tenta aclamar o menino, com medo de que chame outras pessoas:
_Calma, calma, eu não sou uma bruxa má.
– Como calma? E... Toda bruxa é má e feiticeira também... Pelo amor de Deus dona bruxa não me transforme em sapo. Em sapo não, em sapo não...
Kiko tremia como uma vara verde. Já imaginou, encontrar uma bruxa de verdade? Mas, a bruxinha a esta hora caía na risada, e fica com muita pena do garoto, tentando fazê-lo entender que ela não oferecia perigo algum.
_Calma, eu não sei fazer feitiço e não sou mesmo má, eu só queria ver vocês brincarem, acho que ser criança deve ser muito legal.
Kiko, parece acreditar na sinceridade da bruxinha e se declara menos apavorado:
– Ahhhh! Ainda bem, que susto! Mas como é que eu estou vendo você ao vivo e a cores e... dizem que as bruxas não existem!!
– Existem sim, e você deve ser um descendente de bruxo, tem o sangue roxo e é por isso pode me ver.
– Descendente de bruxo??? Sangue roxo, o que é isso??? Você é maluca!!!!
– Não se assuste menino, tem muitas pessoas normais que são descendentes de pessoas que eram bruxas nas gerações muito antigas, mas isso ficou lá atrás no tempo e não tem nenhum poder sobre elas, a não ser pequenas coisas, como ver as bruxas, por exemplo.
_ Ah, Bom! Ainda bem! Já estava morrendo de medo.
Kico perde o medo da bruxinha e entre eles começa uma linda amizade. Kico lhe mostra toda a escola. A bruxinha que logo se encanta com o menino quer logo saber o seu nome:
–Como você se chama??
_Frederico, mas os amigos me chamam de Kico. E você?
– Eu me chamo Lilu e moro numa montanha laaaaá nas margens Rio das velhas. Mas que sala estranha essa! O que são esses pacotes coloridos nas prateleiras?
– Aqui é Biblioteca, e isso são os livros.
_ Biblioteca, livros ... o que é isso?
– Biblioteca é uma sala de leitura onde ficam todos os livros. Os livros são muitos interessantes, é através deles que nós estudamos e aprendemos, eles contam histórias, acontecimentos e ensinam muitas coisas.
_ Kico pega um lindo livro de historias e entrega à Lilu, ela o folheia admirando as gravuras...
De repente a bruxinha fica muito triste e Kico lhe pergunta:
– O que houve??
– Não foi nada, é que às vezes eu gostaria de ser uma criança normal. Assim que nem você, poder brincar, estudar... Ah, você não imagina como minha vida é chata, é muito chata mesmo, só tem bruxas velhas e não há nada legal para fazer. Vocês sim é que são felizes, veja quanto espaço na sua escola, quantas brincadeiras... Ah que inveja de você.
_ Mas você pode vir brincar aqui na escola quando quiser.
– Mas como eu faço com esta roupa de bruxa? Um dia minha tia Ravel me disse, que quando as bruxas vestem roupas normais elas ficam visíveis, como os humanos. Se eu tivesse uma roupa, poderia brincar.
Kiko fica triste também, mas de repente tem uma idéia:
_Ei!! Você não disse que eu tinha sangue roxo, quem sabe não posso fazer alguma mágica, podemos tentar. Vamos, me dê a sua varinha.
Lilu fica meio constrangida, será que deveria entregar sua varinha mágica para Kico? A varinha mágica era o bem mais precioso de uma bruxa. E as outras Bruxas, o que iriam dizer quando souberem que ela falou com um ser humano normal? Mas ainda assim, o desejo de brincar falava mais alto e Lilu quis correr o risco e entregou a Kico sua varinha mágica.
– Kico mira a varinha para Lilu e esta começa tremer. Kiko grita:
_SIM SALAMIM ... FAÇA APARECER UMA ROUPA CRIANÇA NORMAL .... SCABUMMMM!!!
Num instante as roupas de bruxinha de Lilu caem no chão ela aparece num lindo vestido azul. Incrível!!! Não é que Kico tinha mesmo poderes de bruxo? Eles se abraçam e pulam felizes.
_ Corra! Não perca tempo venha vamos brincar....
Os dois saem correndo pelo pátio da escola em direção às outras crianças. Lilu brincou, como nunca uma criança havia brincado antes. Todas as brincadeiras a encantavam. Amarelinha, Estátua, Pique-esconde. Foi uma tarde memorável. Ao som do sino, as crianças se recolheram na porta da sala de aula e Kiko e Lilu se despediram:
_Tenho que ir Lilu, senão vão dar a minha falta.
_ Vá, vá logo.
_ Promete que amanhã você volta?
_ Sim, prometo, amanhã eu volto.
Todos os dias, na hora do recreio, lá estava a bruxinha Lilu espreitando pelo buraco do portão da escola, para encontrar seu amigo Kiko. Eles brincavam muito, faziam muitas travessuras e Lilu se tornou uma bruxinha muito feliz.
Maria Helena Camilo
Obs: A historia pode ser apresentada como peça de teatro infantil.