Um dinossauro chamado 'Meio Ambiente'
Voltava com um grande sorriso no rosto. Sujo de lama até o pescoço, não via a hora de chegar em casa para contar sobre os gols que garantiram a vitória de seu time sobre os marmanjos da quinta série. Pedrinho, que cursava a terceira série, não se intimava frente aos garotos mais velhos, e apesar de seus nove anos fazia o que queria com a bola entre as pernas ou por cima da cabeça dos adversários. Seu pai ficaria muito orgulhoso!
Começou sua caminhada pelo extenso gramado que pintava o belo cenário do caminho de sua casa. O imenso campo a céu aberto possuía uma grande variedade em sua fauna e flor. Figuravam ali frondosas árvores, pássaros incrivelmente coloridos e flores com perfumes hipnotizantes. Era um lugar muito freqüentado por famílias, casais e rodas de amigos com violão. Mas ao final da tarde o campo já estava vazio. Até mesmo os passarinhos já cantavam ao longe suas canções de volta para o ninho. O ainda forte sol poente que fazia o extenso lago em forma de “U” brilhar já tinha secado a lama que o cobria.
Enquanto Pedrinho imaginava aos sorrisos a possibilidade de se tornar um herói com a blindagem que o barro lhe dava, ouviu algo:
- Psiiiu!!!
Olhou para os lados e não viu ninguém. Apenas o gramado, as árvores e o lago ao longe.
- Ei! Você mesmo! Você aí, sujo de barro!
Pedrinho olhou então desconfiado para a única silhueta da qual se postava próximo. Uma imensa árvore solitária. Apesar de viver naquele pequeno paraíso, se localizava distante dos outros grupos de árvore. Mas seu porte não a deixava com a impressão de ser um membro excluído, mas um poderoso rei de um belo país.
- Eu? – sussurrou baixinho sem saber ao certo se aquilo tudo fazia sentido.
- Sim, você mesmo! Você teria um tempinho para mim? Pode chegar perto, não tenha medo!
Pedrinho olhou confuso enquanto dava a volta na árvore procurando por alguém. Olhou para cima, mas a densa folhagem não lhe dava uma visão completa. Pensou por um momento que poderiam ser um dos garotos do time perdedor querendo pregar-lhe uma peça, mas desistiu da idéia quando percebeu que o galho mais baixo era muito alto até mesmo para um adulto.
- Desculpe se te assustei. Sei que isso pode parecer um pouco estranho para você. Mas gostaria de conversar um pouco com você. Tudo bem pra você?
- Sim... – murmurou ainda muito nervoso.
- Bom pequeno rapaz. Sou uma árvore jovem ainda. Sempre fiquei aqui observando tudo a minha volta e aproveitando a bela vida que levo. Viver aqui é um grande privilégio para mim. Mas eu também aprendo muito com os sábios passarinhos imigrantes, que me trazem notícias do mundo todo. E estou realmente preocupado com tudo. As coisas vão de mal a pior e eu não posso me mexer muito, se é que você me entende! – prosseguiu a árvore.
Pedrinho deu um leve sorriso.
- Você quer ouvir o que tenho a falar? Por favor, sente-se!
E ele sentou-se.
*
- Bom Pedrinho. Vou começar com uma pergunta para você. Você gosta de dinossauros?
Pedrinho titubeou tanto pela desconfiança que ainda tinha de seu interlocutor quanto pela estranheza da pergunta:
- Sim. Gosto! Tenho um Tiranossauro Rex em minha mesa...
- Imaginei que gostasse! Creio que infelizmente não posso lhe trazer um Tiranossauro Rex. Mas poderia te apresentar alguém que viveu na mesma época que ele! Que viveu antes dele até! Você gostaria de conhecer?
- Claro que sim! Um dinossauro??? – indagou excitado.
- Hmmm... um dinossauro? Vamos dizer que você pode pensar assim se você preferir! Olhe em volta então...
Girou rapidamente sobre seu tronco então olhando em volta a procura de alguém. Viu o campo gramado, as coloridas árvores, o lago extenso e o sol poente.
- Mas eu não vejo nenhum dinossauro aqui! – devolveu desapontado.
- Lógico que vê! Pedrinho, eu te o prazer de lhe apresentar o dinossauro “Meio Ambiente”!
Pedrinho fez uma cara de pensativo e intrigado ao “dinossauro” com quem conversava. Como nunca tinha pensado nisso antes?
- Pois é Pedrinho. Vivemos aqui desde muito tempo antes dos dinossauros até. Sobrevivemos e fazemos a terra sobreviver desde seu início. E agora, Pedrinho, nós estamos sendo terrivelmente ameaçados. Por pessoas egoístas que se preocupam apenas com o dinheiro e ignoram que, depois que se forem desse mundo, seus filhos estarão respirando o ar que um dia poluíram.
Pedrinho ouvia tudo atentamente.
- Você gosta de ir à praia com seus pais? De nadar no lago e tomar banho de cachoeira?
Pedrinho assentiu com a cabeça.
- Você sabia que seus netos podem não ter nada disso? Do jeito que as coisas andam talvez até seus filhos. O nível do mar ameaça cobrir as belas praias por causa da poluição que aquece o planeta e até as fontes de água estão sendo ameaçadas pela poluição descontrolada de rios e lagos.
Ouviu essa parte com os olhos arregalados.
- Vou te contar uma historinha. Imagine você um dia em sua casa. De repente a casa começa a balançar inteira. Você sai lá fora e tem pessoas derrubando sua casa com grandes marretas. É assustador, não é? Você sabia que isso acontece?
- No meio ambiente?
- Exato Pedrinho! Algumas pessoas derrubam árvores ilegalmente para lucrarem. Mas não estão nem aí pro fato de que estão acabando ali com o lar de milhares de pássaros, macacos e muitos outros animais que tentam então sobreviverem desabrigados. Seres vivos assim como você!
E Pedrinho assentiu com um ar de pensativo.
O tempo foi passando e Pedrinho começou a se sentir à vontade na presença de seu estranho interlocutor. Riu e questionou a árvore inúmeras vezes. Assustou-se com algumas revelações e também se animou com algumas perspectivas. Soube como o homem pode ser responsável pelo descontrole de fenômenos naturais desastrosos. Mas também ouviu como nos dias atuais as pessoas já começavam a tomar consciência da situação de calamidade para qual a terra caminhava. Mas sentiu que faltava muito a se fazer ainda. Entendeu que nem todos os alertas e consciência social eram suficientes ainda. Eram necessárias mais ações!
A noite já tinha se instalado quando a árvore resolveu terminar o assunto:
- Bom Pedrinho. Creio que eu tenha terminado por aqui. Já está ficando tarde e eu estou muito cansado também. Sou muito grato pela sua atenção e espero que você tenha aprendido bastante essa tarde. Espero que você possa passar esses pensamentos a diante e ser responsável por muitas boas ações.
E Pedrinho concordou com a cabeça.
- Mas queria lhe pedir uma última coisa. – acrescentou a árvore. - Há muitos anos fui plantado por um grande amigo meu. Ele me deu a vida e fez um pequeno gesto para o bem do mundo. Eu gostaria muito que você...
- Pode deixar! – respondeu sorrindo entusiasmado antes mesmo de a árvore terminar sua proposta.
Deu um longo abraço no imenso tronco. Despediu-se e voltou correndo para casa.
*
Pedrinho chegou eufórico em casa. Entrou de sopetão em casa e se dirigiu à cozinha. Sua mãe picava algo enquanto seu pai lia um livro sentado em uma cadeira ao seu lado:
- Pai! Quero plantar uma árvore!
- Que isso menino! Olha essa sujeira! – disse a mãe colocando as mãos na cintura.
- Como é Pedrinho? Já anoiteceu meu filho. Estava pensando em irmos ao cine...
- Não! Quero plantar uma árvore hoje! – disse interrompendo o pai.
- Tudo bem. Vá se tomar um banho então... vou ver se acho algumas ferramentas na garagem. – disse o pai com cara de assustado.
- Obrigado pai! Te amo! – disse abraçando-o e saindo em disparada logo em seguida.
- Nosso filho está crescendo – disse a mãe com um orgulhoso sorriso no rosto enquanto voltava a picar a cenoura.
- É... – murmurou o pai se levantando em direção ao quarto.
- Ei amor! O que é isso nas suas costas? – perguntou apontando para algumas folhas que se espalhavam pela camisa do marido.
- Nada não meu bem! Só uma visita que fiz a um velho amigo do meu pai... – respondeu com disfarçado sorriso no rosto.