Presunção
Uma vez procurei um psiquiatra - queria ver como era (ele e eu).
Após as apresentações de praxe e cadastro, ele disse:
- "Fale tudo que tiver vontade."
Eu, em vez de falar de mim, comecei a perguntar sobre a vida dele. Onde fez faculdade, pós graduação, que linha de tratamento seguia (Jungue ou Freud) - apesar de ser médico psiquiatra e não psicólogo.
Ele bem que tentou desviar o assunto para a minha pessoa, mas, pensando talvez que eu sondava sua credibilidade profissional, e devido à minha insistência, continuou respondendo à minha saraivada de perguntas que não lhe davam chance de racionar direito para identificar o meu problema.
Estávamos cada um em uma cadeira e resolvi desviar para uma curiosidade natural que sempre tive.
- "Posso deitar-me no divã?" - perguntei.
- "Claro - respondeu-me ele - fique à vontade!"
Deitei-me, relaxei, fiquei em silêncio e quase dormi... Depois de um bom tempo, vendo que eu não me manifestava mais (fiz isso de propósito, para ver ver quanto tempo ele aguentava aquela situação), ele finalmente perguntou:
- "Quer falar mais?"
- "O sr tem algum complexo?"
- "Por que pergunta isso?"
- "Porque observo sua careca e vejo que disfarça penteando o cabelo lateral de um lado ao outro para escondê-la..."
- "Seu tempo acabou... Para quando marcamos o retorno?"
- "Melhor não retornar, não resolveremos o nosso problema..."
Claro que ele olhou para mim de um jeito estranho e não ousou me contrariar, nem confirmar a que eu me referia. No mínimo, deve ter pensado: "Esse cara é doido! Melhor manter distância dele..."
Será que procurou analista?... Imagino que sim! (se não procurou, o problema é dele... quem manda ser normal!)