QUELO FAZÊ COCÔ MAMÃE!!!

Eu não sei se já falei mas eu tenho pavor de avião. Tanto dentro dele, quanto fora, enfim. Quando não tem outra solução, ou seja, viagens com mais de dois mil e quinhentos quilômetros, que não dá para ir de carro, ou ter que enfrentar 3 dias num buzão, aí eu vou de avião. Já me deram diversas idéias, do tipo, toma 12 comprimidos de lexotan, maracujinha de canudinho, chá de coca, enfim. Mas eu não faço nada disso e sempre digo que vou encarar. Aí me ferro toda.

E olha que não viajei muito naquilo heim!

Eu juro que eu vou o trajeto todo (até antes, já na sala de espera, no check in) conversando comigo mesma, lembrando tudo o que todo mundo me fala. Mas aí começo a ficar com raiva. Não me venham com essa história de que quando chega a hora não tem jeito. Tem jeito sim, se a gente evitar.

Na última viagem eu quase surtei quando vi os pilotos (ou piloto e co-piloto). Eram dois meninos! Eu não me conformo com isso. Eu achava que eles (os pilotos) eram senhores, de óculos, barba, de uns cinqüenta anos. Mas não. Quase fui lá tomar satisfação, perguntar onde se formaram e etc. mas quando eu entro no avião, já coloco o cinto e de lá não levanto mais. Eles deviam levar o diploma (ou os diplomas, seria melhor) enroladinhos em cada vôo que fizessem e colocariam num quadro próprio ali na frente, pra todo mundo ver, inclusive eu.

Vocês devem estar pensando: pobre é fogo, né? Mas se eu fosse milionária e tivesse a oportunidade de conhecer a Itália, as Ilhas Gregas, o Japão (ai, mil horas dentro de um avião), sabe como eu faria? Pela internet, pronto! Graças a Deus, hoje existe internet, tele conferência, essas coisas.

E eu sei, só que agora não me lembro bem quem, que tem muito artista famoso que tem horror de avião, que faz as excursões de ônibus. To mentindo?

Eu tenho uma prima que é comissária (não é aeromoça mais gente, por favor), por isso posso falar. Eu acho (mas ela nega terminantemente) que eles (comissários e comissárias) fazem curso de teatro para ficar com aquelas caras tranqüilas quando o avião tá todo se tremendo. Não é possível. E como conversam? Minha prima diz que adora (isso mesmo, adora) quando tem turbulência, porque aí ela senta um pouquinho e descansa. Como é que consegue? Eu não conseguiria. No primeiro sacolejo eu ia sair gritando: galera, se segura aí como puder, que eu vou cuidar do meu! E sentava sim, mas com a bíblia nos joelhos. Deus me livre!

Tenho o maior respeito e admiração por esse pessoal que trabalha com isso, que passa o dia todo, e a noite (pior ainda a noite) dentro de um avião.

Já passei umas situações constrangedoras em viagem de avião, que talvez não sejam nada para quem tá acostumado, mas para mim... que não vou me acostumar nunca... das duas vezes que viajei com minha filha ela aprontou comigo. Deixa ela. Quando ela crescer vou explicar direitinho o que ela me fez passar a uns milhares de quilômetros de altitude. Na primeira vez, ela estava com um ano, usava fralda e fez cocô lá em cima. Até aí tudo bem, porque combinei com meu marido que ele ficaria responsável por ela “lá em cima”, que eu não me mexeria, enfim. O coitado pegou a criança já cheirando mal e foi para o banheiro trocar. Teve que atravessar o avião todo com aquele odorzinho no colo porque o banheiro da frente tava ocupado. Chegando lá atrás, o nosso querido comissário disse que ele teria que voltar pois já estavam começando os “procedimentos” de aterrissagem. (Não sei porque esses procedimentos começam meia hora antes). O coitado voltou tudo com o fedorzão no colo pelo avião todo. Depois vimos que até o braço dele sujou... cruzes!

Na última viagem, ela já maiorzinha, dois anos, resolveu fazer cocô de novo nas alturas (que mania!). Como agora não usa mais fraldas, já pede antes, talvez você ache que foi mais fácil né? Não foi. Começou com um: quelo fazê cocô mamãe (baixinho). Eu falei: espera um pouquinho, já estamos chegando. Outra vez: quelo fazê cocô mamãe (mais alto). Coloquei o dedo na boca e soltei um xiiiiiiiiiii olhando fundo nos olhinhos dela e repeti: espera mais um pouquinho, já estamos chegando e fala baixo!. QUELO FAZÊ COCÔ MAMÃE!!! Jesus! Onde estás? Dizem que estás nas nuvens.... Que vergonha meu Deus. Só escutei gargalhadas atrás de mim. Ainda não acabou. Eu falei: ta bem, vai com o seu pai então. QUELO I COM VOCÊ MAMÃE! Não, não, não, mil vezes não. Vai com o papai. Gritaria, choro, criança se jogando no chão do avião fazendo birra porque queria ir com a infeliz da mamãe, lá fui eu. Só não saí pisando firme com a raiva com medo de atrapalhar o vôo. Nunca tinha entrado em banheiro de avião. Se tivesse alguma necessidade, ficava até o fim do vôo. Sentei a criança e esperei três segundos. Acabou? Não. Anda filha! Concentra, faz força, anda logo. Não sei quanto tempo demorou porque o avião começou a tremer. E eu, naquela posição, agachada entre o vaso e a porta daquele banheiro minúsculo, achei que ia morrer daquele jeito, ainda por cima segurando as duas mãozinhas da minha filha, pra dar uma força. Finalmente, acabou. Onde é a descarga? Dane-se ia sair assim mesmo. Mas ao abaixar a tampa desceu água. Tudo certo. Saio do banheiro com um sorriso amarelo olhando pro chão.

Nessa hora o comissário ficou super meu amigo, porque ele perguntou: você tem medo? Eu disse: não, pavor. Ele riu. Não sei porque ele riu. Depois disso eu percebi que ele tentava me distrair, conversar, puxar papo, oferecer mais comida, apesar de eu não conseguir beber nem água. Eu até esperei ele me pegar no colo e passear comigo pelo avião também, como fez com minha filha, dispensando é claro a ida a cabine.

Ainda teve isso, eu fui sentar logo na primeira fila (com criança, né?) e aí via tudo. Nunca entendi que tanto meu amigo comissário (infelizmente não lembro o nome dele) tinha pra falar com os pilotos. Pra mim, devia ser algo do tipo: diminui comandante, ta muito rápido. Mas não sei.

Mas tem uma coisa que eu adoro que me faz esquecer um pouco os problemas lá de cima. É quando eles (me amigo e os outros) falam aquele monte de coisas pra gente, coisas lindas, motivadoras, palavras de auto-ajuda, do tipo, se faltar ar, colocar a máscara de oxigênio primeiro nas crianças e idosos, coisa desse tipo. Agora, tem coisa mais auto-ajuda do que aquela mensagem na poltrona da frente que diz que ela é flutuante? Que em caso de “pouso” na água é só “retirar” e flutuar? Não tem. Eu colocaria outras palavras mas não sou contratada para isso.

Depois dessa última viagem eu falei para a minha filha que ela só viaja de avião agora (e eu idem) quando ela estiver com 18 anos.

Liz Hardt
Enviado por Liz Hardt em 21/03/2008
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