Pouso Forçado

Simpática figura. Baixinho, atarracado, barrigudinho, avermelhado e completamente calvo. A sua maneira tratável e a sua aparência de personagem da Disney fez daquele fazendeiro do interior de Minas prefeito, por dois mandatos, da pequenina Virgem do Carmo, cidade onde sempre morou.

Tio Tico entrosava-se bem com alguns deputados da região e, volta e meia, se dirigia à Capital do Estado, onde possuía um apartamento para tratar dos assuntos municipais.

Era final da década de 60 e o Tio Tico já se fazia transportar via aérea. Num de seus retornos para a sua cidade ele fretou, com mais dois amigos fazendeiros, um monomotor. Tendo este decolado há alguns minutos e já sobrevoando a chapada de Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, bateu no ilustre passageiro uma forte dor de barriga. O sensível intestino do Tio Tico exigia-lhe urgência, com severos telegramas, alguns fonados. O piloto e os companheiros de viagem, já espichavam os seus pescoços rumo as janeletas laterais da cabine de comando. Afinal, a atmosfera ambiental, no interior do aparelho, estava mais para latrina que para avião. Insuportável!

Quando os constrangidos viajantes, mudos e sufocados, já se encontravam dispostos a pular sem pára-quedas daquela aeronave fétida... maldito dia! E tendo o Tio Tico recebido um ultimato oficial e fardado, anunciou ao preocupado piloto que pousasse o avião ou, caso contrário, faria suas necessidades ali mesmo, no interior da nave. O protesto foi geral, não obstante, se apiedassem do suado, vermelho e desesperado prefeitinho.

Como a estrada que cortava a chapada era uma reta quilométrica, deserta e muito bem encascalhada, o piloto, sem pensar duas vezes, embicou o avião até a rodovia, pousando em seguida. Tio Tico, às carreiras, com o cinto solto e segurando as desabotoadas calças com as mãos, correu em passos miúdos até uma moita desfolhada e empoeirada pela seca chapada, onde agachado desapertou-se, desfazendo-se, em seguida e com nojo, de suas derretidas cuecas samba - canção. Os seus companheiros de viagem, dentro do avião e de portas escancaradas, abanavam com jornais o interior do veículo e, desconfiados, verificavam as adjacências onde se sentara o dito prefeito, dado que o mau odor parecia tatuar o ambiente.

Tio Tico, aliviado, e após uma breve assepsia corporal com água mineral gasosa, deu voz de partida e o avião alçou vôo como um pássaro feliz.

(Por incrível que pareça, esta história aconteceu.)

Di Amaral
Enviado por Di Amaral em 08/03/2008
Reeditado em 06/03/2011
Código do texto: T892434
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