BONGO BONGO OU MORTE

Carlos era o filho único de um grande magnata da construção. Mas vivia numa dureza ímpar. Seu pai o controlava muito de perto e, a mesada que recebia mal lhe permitia pagar uma pizza para a namorada.

Carro era o dela, Universidade a pública e, o dinheiro era tão curto que dividia o quarto de pensão com quatro amigos de faculdade.

Foi quando recebeu a notícia que seu pai falecera e deveria, além de voltar para comparecer ao seu enterro, assumir a presidência da companhia.

Chegou a tempo de acompanhar o caixão ao cemitério. E, no dia seguinte, subiu até ao trigésimo segundo andar do prédio sede da companhia.

Mais de vinte executivos e advogados o esperavam. Mas ele de nada quis saber. Ou ouvir.

“Quero a chave do jatinho! Talões de cheques e cartões. Vou para Paris, gastar o quanto puder! Eu nada entendo de negócios! Toquem a empresa como sempre fizeram! E paguem minhas contas.

Ninguém ousou discutir!

E Carlos voou para Paris com mil cartões e um maço de talões de cheques.

Seis meses de noitadas adoidadas e orgias! Cada noite ele fechava uma boate! Mulheres eram cinco por vez! Orquestras, shows, andares inteiros de hotéis reservados, festas de arromba. O mundo se curvou aos seus pés!

Foi quando, depois de seis meses de noites desenfreadas, começou a se cansar!

E resolveu voltar! Por apenas uma semana para poder tomar contato com a empresa e os negócios.

Pegou seu jatinho e decolou com destino ao Brasil. Viajava tranqüilo, quando, sobrevoando o Saara, seu avião começou a falhar. Tentou de tudo, mas o pequeno jato começou a perder altura e forçou-o a fazer um pouso forçado no deserto.

Assim que aterrizou, o avião foi cercado por vinte canibais. Eles dançavam a sua volta, com seus corpos pintados, cantando e tocando uma melodia intermitente nos tambores.

Depois de muito meditar Carlos resolveu descer e enfrenta-los. Afinal, pensou, não teria qualquer outra alternativa.

Tão logo desceu da aeronave, um índio alto e enfeitado, parecendo cacique, agarrou-o pelo pescoço e indagou:

“-Bongo, bongo ou morte?”

Bolas pensou. Que será bongo, bongo?

De qualquer forma sempre será opção melhor que a morte.

Mas o cacique não estava disposto a esperar! Sacudia seu pescoço e indagava cada vez de forma mais incisiva e violenta: “–Bongo, bongo ou morte”.

Bongo, bongo, respondeu Carlos!

E foi então que os vinte canibais o estupraram!

A coisa não foi fácil. Mantiveram-no cativo por mais de quarenta dias no interior de uma caverna.

Logo pela manhã, três o procuravam. E, antes do café, ele servia, generosamente, a três indígenas. E, não havia como resistir. Enquanto dois o seguravam, o que sobrava, desempenhava como queria.

Geralmente as dez da manhã, seguia-se outra secção. Claro, com outros índios. E outra antes do almoço. Outra logo depois, talvez para incrementar a digestão! Que seria repetida ao lanche das três horas. E, novamente durante o jantar. Via de regra, a última acontecia por volta das nove da noite. Porque aqueles canibais costumavam dormir cedo. Mas pela manhã, logo cedo, todo o procedimento se renovava com insuportável regularidade.

Foram quarenta dias de agonia. Mas, como não há mal que nunca se acabe, o cacique agarrou mais uma vez pelo pescoço e disse-lhe: “-fim do bongo, bongo. Pode ir!” E abandonaram-no sozinho na caverna.

Carlos conseguiu arrastar-se até seu avião. Abriu o capô e, pode constatar que todo o incidente fora motivado por um pequeno fio que se soltara. Religou-o. Deu a partida. E, pouco depois, desembarcava em casa. (Não lhes disse, mas, tinha aeroporto particular).

Chamou todos o grandes mentores da indústria, relatou-lhes o acontecido, contou-lhes que sua cabeça fora para o espaço e pediu sugestões.

Todos foram unânimes em aconselhar um tratamento psiquiátrico intenso que pudesse livra-lo de todas essas seqüelas.

Os melhores psicólogos e psiquiatras foram convocados. As sessões eram numerosas e diárias. E durante mais de cinco anos Carlos submeteu-se a intenso tratamento.

Entretanto a recuperação mental e o progresso eram difíceis. E todos os médicos acabaram por aconselhar-lhe, como última alternativa sanatória, um tratamento em Paris, com um grande mestre, com a mais alta autoridade em distúrbios mentais.

Como não havia qualquer alternativa, Carlos voltou a embarcar no seu jatinho e desceu em Paris.

Submeteu-se a mais um ano de tratamento intensivo. Mas o mestre dos mestres honestamente participou-lhe que seria muito difícil eliminar por inteiro o trauma sofrido. Aconselhou-lhe a voltar e tentar gradativa e lenta recuperação.

Carlos subiu no seu jatinho, decolou, com destino ao Brasil, mas quando sobrevoava o Saara, percebeu que o avião começava a falhar.

Tentou desesperadamente reparar a falha, mas a aeronave começou a descer. E obrigou-o a fazer um pouso forçado no deserto.

Quando conseguiu imobilizar a nave, percebeu que fora cercado por vinte canibais! Todos pintados dançavam em volta do avião, entoando músicas que sua lembrança reconhecia, mas, se recusava a aceitar.

Não há alternativa, pensou.

Desceu.

Um deles, mais alto, forte, bem pintado, agarrou-o pelo pescoço. E perguntou-lhe: “- Bongo, bongo ou morte?”

Eu já assisti esse filme, pensou.

Juro que não agüentarei outro bongo, bongo!

Resolveu tomar uma decisão de homem! Olhou de frente para aquele enorme canibal e respondeu: “Mim preferir morte”

O canibal assustou-se. Mas devolveu-lhe o olhar duro. E, retrucou:

Morte sim! Mas antes, bongo, bongo!