ESTÓRIA DE CARREGADORES

O sangue de Hildebrando gelou ao perceber a aproximação de dois homens em uma moto. Antes que pudesse esboçar qualquer reação de fuga, sentiu o cano do revólver contra suas costas.

Resignado, entrega a carteira e o celular pensando em apenas evitar o pior. Demorou a entender quando o bandido que recolhia os pertences lhe indagou do carregador. Perdido, Hildebrando perguntou:

-Que carregador?

-Tá tirando comigo, irmão?! Que carregador tu acha que eu quero? Tô falando do carregador do celular, comédia.

-Não estou com o carregador.

-Tá me tirando? Tu ia aonde maluco?

-Estava indo pro trabalho.

-E ia sem levar o carregador do iphone? Tá fazendo isso pra não tê como pedir uber depois?!

-É que eu saí apressado porque estou atrasado. Quando isso acontece peço emprestado o carregador do Aninha no serviço, que ela tem um modelo igual ao meu.

-Então tá, amizade, sobe na garupa entre eu e o parceiro ali e vamos lá buscar o carregador da Aninha.

-O que?

-Isso que tu escutô, irmão. Vamo lá roubá o carregador da Aninha.

-Por que?

-Porque eu não vou roubar um iphone sem o carregador. Os malandro já tão até vendendo separado porque o bagulho custa uma nota.

-Mas nós três numa moto vai chamar atenção da polícia.

-Tem razão. Mora perto?

-Algumas quadras.

-Então vamo lá buscá.

-O celular não é suficiente? Por que tanta insistência com o carregador.

-Moço, virei ladrão depois que perdi minha mãe. E o senhor sabe, que mãe a gente tem que respeitá. E se tem coisa que minha mãe sempre me disse foi que feio era roubá e não podê carregá.

@oantonioguadalupe