Conversa sem pé nem cabeça

Conversa sem pé nem cabeça.

Fui extrair um dente de alho da boca da noite que chorava olhos d'água até desembocar no leito do rio. Acabei por contar um dedo de prosa na orelha de pau, exatamente quando um piolho de cobra puxava uma palha na cabeça de frade recostada na perna da mesa.

Alumiado por uma língua de fogo que não se cansava de falar que o beiço da gamela beijava a maçã do rosto da manga de camisa.

Vassoura de bruxa varria o olho da enxada que tinha uma cabeça de prego entortada no bico do bule. Foi aí que a garrafa esticou o pescoço pra ver o porquê do pilão estar com a mão amassando os grãos de bico, debaixo de uma tromba d'água.

A porta com seu olho mágico gretava o cabelo de milho ocultando o umbigo da laranja enquanto a mão de vaca assava a batata da perna de Barbatimão.

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Que beleza de participação me contemplou o Poeta Jota Garcia, pelo que fico imensamente agradecido.

POLISSEMIAS

De vivo, é que vivo longe

Distante de causar pena,

pagando a minha pena

Ao viver aqui tão só.

Uma pena que muito vale,

É a pena do pavão,

Mas de tudo o que mais vale

É ter da pena o perdão.

O que me vale é ver o vale

Bem ali ao pé do monte.

Quanto é que isto vale?

Se alguém souber me conte.