Coisas Que Só Acontecem Comigo - XXVII. Preservativos

A primeira vez é sempre muito difícil. Entendo que a única coisa que se faz a primeira vez sem traumas é mamar. Isso porque há um envolvimento divino entre as partes. A mãe no seu instinto angelical e a cria pelo desejo impensado da saciedade. Todas as outras coisas são acompanhadas de dores. Quem já levou uma criança a primeira vez ao Jardim de Infância deve ter retornado torturado. Andar de bicicleta causas escoriações, dores e curativos. Até para o velho Luiz Lua Gonzaga foi assim. Certa vez, por esse mês de junho, ele fora tocar na praça pública em Balsas Maranhão, nos festejos do dia de “Santantoi”. Pediu desculpas, pois poderia errar algumas notas. A sanfona dele estava desafinada e tivera que comprar outra novinha para aquela noite e disse: Sanfona nova é como moça: a primeira vez dá um trabalho da gota serena!

Pois bem, de 1970 a 1972 eu já estava com dois filhos e com o salário sufocado. Na televisão pouco se falava em preservativos. Eu sabia que havia anteriormente um sucedâneo que era vendido quase que clandestinamente conhecido como “camisa de Vênus”. Ora, entender as coisas brasileiras muitas das vezes não era fácil, imaginemos então um treco interplanetário e ainda mais de uma deusa grega.

Como minha situação era delicada, resolvi comprar o tal preservativo. Na farmácia, escrita ainda com ph (Pharmácia), fui atendido por uma senhorita, que de cara já fique constrangido, envergonhado de pedir o artigo, mas sem outro jeito, lhe falei o que queria. Ela fez boquinha de riso e me trouxe uma tripa comprida de trouxinhas plásticas e me perguntou:

- Quantas desejas?,

- Dez. Vou tomar tudo essa semana.

O troço não trazia bula, nem informação alguma de como usar, nem folheto ilustrativo, nada! Não sei se hoje ainda existem, mas naquele tempo sim, havia dois medicamentos: Sonrisal e Alka-Seltzer, indicados contra azia e má digestão. Esse último com a embalagem azul, muito parecida com os preservativos recebidos.

À noite quando fui deitar, peguei um desses e ao abrir já não gostei daquele troço emborrachado, gosmento. Peguei meio copo d’água coloquei-o dentro e estou até hoje esperando fazer o xiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii da efervescência...

Minha mulher chegou e me perguntou: rapaz que diacho de armação é essa que você está inventando?

É cada medicamento que me aparece!

Um Piauiense Armengador de Versos
Enviado por Um Piauiense Armengador de Versos em 28/06/2017
Reeditado em 08/11/2019
Código do texto: T6039437
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