*O padeiro de Mocambo - Coisas que só acontecem comigo - VII
O padeiro de Mocambo
Coisas que só acontecem comigo - VII
Mocambo é um povoado pertencente ao município sergipano de Frei Paulo, encravado no entroncamento das BR-235 e SE-453, entre Frei Paulo, Carira e Pedra Mole. Em 2002, estive lá para fazer o projeto de parte dessa estrada SE-453.
Mocambo tem umas particularidades superinteressantes e, possivelmente, únicas no universo. O Natal, por exemplo, é festejado no dia 31 de janeiro e São José, em 19 de abril. Isso nem o Papa explica.
A casa que alugamos ficava na avenida principal, a uns cinquenta metros da panificadora da esquina, onde, costumeiramente, comprávamos pães quentinhos. Foi exatamente ali onde tudo aconteceu...
Certo dia, por volta das 5 e meia da manhã, quando eu estava indo a essa padaria, vi quando um carro estacionou bem em frente e dele saiu um senhor de, aproximadamente, sessenta anos.
Entramos juntos, quase ao mesmo tempo, cada um por uma porta, e entregamos à senhora do caixa, o dinheiro pelos pães que desejávamos.
Nisso, aparece à porta dos fundos que dava para o salão principal, um homem negro retinto, alto, vestido apenas de calção, pés descalços, mais suado que pano de cuscuz, quando sai do fogo, pingando em bicas, mais sujo que o capeta, quando vem da lenha e falou pra senhora, que também era a dona da padaria:
– O trigo acabou.
– Tem nada não, mando já pegar mais no depósito. – respondeu ela.
O outro freguês teve a infeliz ideia de perguntar quem era aquele senhor e, para nossa surpresa, ela disse:
– É o padeiro.
O cliente, de tão indignado, deu as costas e saiu quase voando dali. Entrou no carro, deu a partida e sumiu, sem sequer levar o dinheiro que havia entregado. Ele saiu por uma porta e eu, pela outra, tão desesperado quanto ele.
Foi a última vez que comi pão na minha vida.
Só então descobri o motivo do adágio: “Padeiro não come pão.”
São coisas que só acontecem comigo