...AINDA CHEGAREMOS LÁ!

A falta de água era aterradora. Rezavam para o santo reformador das nuvens e nada!

Logo cedo Nedino possuído por uma tiriça dos diabos entrou correndo no banheiro. Seu pai aproximou-se da porta, espiou com os ouvidos, sem nada ouvir. Se fosse para banho, o consumo de água e o tempo deveriam ser mínimos. Embora àquela hora, não era para banho. Costumes existem é regem o cotidiano de uma família de bons modos.

Não demorou muito e veio o sinal: pum...pum...pum. “Está vivo; graças a Deus!”. Como estavam com visitas, Nedino saiu meio desapontado. Ficou na cozinha por uns minutos e não suportando a dor de barriga, correu novamente para o banheiro.

Seu pai vociferou: “Nedino, meu fio; ande rápido e economize papel. Use o jornal que está pendurado e cortado. A seca e a inflação estão acabando com a gente”.

O menino saiu desconfiado. Foi para o quarto, mas como as coisas não estavam nada das melhores, retornou às pressas para o banheiro. Seu pai o orientou: “Fio, use somente o jornal, deixe o pouco de papel higiênico que resta para as visitas. A coisa tá feia”.

No que ele respondeu: “verdade, painho. Duplamente feia! O jornal está acabando também, como faremos quando acabar”?

- Teremos que limpar com o dedo. Vai ser o jeito.

- Com o dedo? Não é pior? Além da sujeira nas bordas, teremos que limpar o dedo. E como faremos para limpá-lo?

Não esperando pela resposta/pergunta sagaz do filho, o pai ficou pensativo. Após buscar na memória uma resposta satisfatória, disse: “Pelo amor de Deus, na roupa não! Teremos que limpá-lo em algum buraquinho. O problema é saber se devemos usar os que estão abertos, porém desgastasdos, ou construir um buraquinho novo”.

O filho sugeriu: “Que tal fazer na parede do banheiro? Assim fica mais fácil olhar quem está dentro”.

- Pode ser! Boa ideia. Um olho, olhando outro, vai ser uma tremenda inovação tecnológica da Oftalmologia. Detalhe: uma vez que a espessura dos dedos são variáveis, como saber o diâmetro do buraco?

- Deixa! Quando acontecer de ter que limpar com o dedo, agente vê o que faz.

Mutável Gambiarreiro
Enviado por Mutável Gambiarreiro em 21/07/2015
Reeditado em 21/07/2015
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