Enlevo ESPIRITUAL

Embora estivesse afastado do catolicismo já algum tempo, religião que o encaminhou ao conhecimento do Cristianismo, Quinzim influenciado por alguns acontecimentos insólitos em relação ao que aprendeu, enveredou-se no conhecimento do Espiritismo e muito disto se deveu à entidade, que como afirmava, era seu mentor, guru e através dela poderia desenvolver a mediunidade.

O cidadão experimentou o prazer e transcendência, canalizada pela felicidade incondicional, enveredou-se em ler livros e frequentar assiduamente o Centro Espirita: “A luz da doutrina antes tarde do que nunca”, local onde, além do aprendizado e conhecimento, adquiria amigos de linguagens inusitadas.

Seu guia, segundo disseram para ele, era Mindinho, um senhor andante que viver dois séculos antes dele e que perambulava pelo mundo, chegando por fim naquele paradeiro e até então vagava procurando o seu reduto, que no caso seria ele. Conforme disseram a Quinzim, o momento da recepção e reconhecimento entre os dois foi de muita comoção e ao mesmo tempo, revolta.

Comentaram que o cidadão dador de lucidez espiritual relutava bravamente em se incorporar a Quinzim, chegando os dois a rolar atracados no chão, feito cães duelando por uma cadela. Por sinal, este uivava e salivava como lobo em dia de lua cheia e no término de cada embate, ao voltar à realidade e sã consciência, o cidadão citadino arreparava o corpo e tentava entender o que acontecera e onde estivera.

Nessas escapadas de si, dizia que estava no Japão. O guru chegava-lhe o chicote sem o menor arrependimento e bradava com toda potencia dos pulmões dizendo que ele estava no Brasil.

- Estou porra nenhuma. Sou Japonês, olhe fixamente nos meus olhos e verás que são fechados e puxados, seu imbecil? Não sabe nem quem é, imagine se vai saber quem sou eu. Idiota! Ai, ai, pare! Está doendo seu lésbico. Tá bem, estou no Brasil! Calma, calma! Sou Quizim, o andante feliz, seu infeliz! Sujeito do além. Seu nome é no diminutivo, mas é um gigante para bater e mandar.

Com o tempo, parecendo dentadura que aperta e faz o banguela gritar no começo, foi relaxando o relacionamento entre ambos e hoje não se desgrudam, fazendo de cada momento uma arruaça e festança única. São folgazões na arte espiritual de amarem-se mutuamente.

Era a terceira vez que Mindinho vinha à Terra para pagar os pecados de vidas passadas. Na primeira vida, conforme levantamento de seu protocolo, o cidadão era um tremendo canalha comedor da mulherada nos bordéis, saindo sem pagar. Estima-se que nessa sua passagem pela Terra, ele tenha deixado aproximadamente 20 filhos; 100 bisnetos e 150 netos. Constava em sua carta genealógica de vidas passadas que esteve presente ao evento de destruição de Sodoma e Gomorra. Embora negue, ele era putanheiro, que só.

Já a segunda vez, ele foi escritor e um dos portais para o qual escrevia, era para o RL. Seus costumes e hábitos alternavam entre a arte e o sentimento homossexual; o que não foi plenamente confirmado em mapa astral levantado à época.

E a terceira vez e espera-se que seja a última, porque segunda consta, não suporta mais evoluir às custas do sofrimento, foi um maltrapilho, com as barbas e cabelos longos e sujos e com o andado trôpego, tropeçava nos fios de cabelo da barba e desmontava-se no chão com frequência. Mindinho necessita de orações, então quem ler este, por favor fazeis isto pela salvação de seu espírito.

Morreu com o corpo desfolado, com hematomas e forrado de escoriações. Por sorte, porque é por demais autoritário, conseguiu uma presa para encostar-se. Tomara que a parceria seja benéfica para ambos, pois Quinzim também merece a paz terrena.

Quinzim andava sossegado pelas ruas, quando o guru espiritual o intimou que fosse até a praça mais próxima, que lá teria uma pipa para ele empinar. Fez questão de dizer que era oportunidade única para que ele se sentisse criança empinando pipa, coisa que sempre quisera, mas nunca teve a oportunidade. Arredio, relutava em obedecer o mentor, quando de repente recebeu uma mensagem relembrando-o dos tempos idos e do chicote em caso de desobediência, saiu voando pedindo mil desculpas.

- Sem problemas Quinzim, porém pare de ser arredio e ficar zombando do que te digo para fazer. Como sabeis, quero o seu bem meu inseparável amigo. Só o amor constrói.

- Errei. Desculpe-me Mindinho. Perdoe-me, não sei o que faço em relação ao meu ser supremo.

Chegou à praça e estando ele num dos cantos, recebeu a mensagem que era exatamente naquele ponto e que caísse em silêncio esfuziante e iniciasse a brincadeira. Quinzim gesticulava com as mãos, dando aos passantes o entendimento que a pipa estava alta e sendo atacada por duas outras. Entre gestos e xingamentos, o homem que naquele momento era criança, irritava-se com as investidas dos inimigos.

- Filho de puta, deixe-me em paz! Vai cortar a pipa do seu pai, a minha não! Vou te mandar para ficar esperto. Pronto, esse não me atrapalha mais.

Crianças o rodeava, tentando entender o que estava acontecendo. Quinzim gesticulava e gritava, dando a entender que debicava para direita, para esquerda e às vezes tomava fôlego do stress que era empinar pipa, liberando a carretilha. “Caramba, vai acabar a linha. Humm, já vem mais. Manda linha”.

- Com quem você está falando, Quinzim. Onde está a pipa, que ninguém está vendo? Nem vento tem!

- Cala a boca curioso! Está me atrapalhando, não está vendo que tem uma pipa aproximando querendo me cortar. Vou fazer como fiz com as outras: mandar ela para a puta que o pariu.

De repente gesticulava e dizia que ia recolher a linha, porque o vento estava fraco e passado certo instante, fazia que botava a pipa no ombro e a carretilha debaixo do braço, partia. Mas, antes cumprimentava Mindinho, estendia o braço com a mão aberta e dizia: “Valeu amigão, mais tarde estaremos juntos novamente”; fato que a criançada replicava: “Você bebeu Quinzim”?

- Dá uma corrida neles, meu subordinado. Está tirando a gente. O que Quinzim fazia sem maiores explicações, assustando a molecada.

- Espere aí seus Diabos! Vai ver quem bebeu. Fica nos atormentando. Num tem o que fazer nas suas casas, não? Deixa que arrumo, já!

Segue com o último episódio da saga de Quinzim aqui na Terra

Mutável Gambiarreiro
Enviado por Mutável Gambiarreiro em 14/07/2015
Reeditado em 14/07/2015
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