ApocaLYpse

Dila, viúva donzela morava ladeada por dois vizinhos que participavam ativamente de sua vida e como possuidora de dotes, eram pagos para auxiliá-la nos afazeres do dia-a-dia. Guardiões urbanos. Incluía no trabalho secreto, fazer rigorosamente a segurança de sua Senhoria, o que faziam com desenvoltura e competência. A qualquer hora estavam de prontidão.

Numa noite enluarada, onde por ali não se ouvia um pio sequer até a madrugada alta; quando repentinamente, o reboliço chamou atenção de seus vizinhos. Estrondos espocavam de quando em quando, barulho feito quebra de mar, nuançando tormenta, ocultos clareares sem relâmpagos e ribombares secos de trovões. A variação de ruídos era imensa, de modo que os seguranças se puseram de prontidão e alerta. Incontinenti comunicaram-se por telefone:

- Você foi à casa dela e notou algo?

- Estive lá, mas misteriosamente, ao passar pelo portão, baixou um silêncio de cemitério.

- Também notei, isto. Muito esquisito. Ouça: começou novamente. Levante-se e vamos nós dois.

- Sim. A caminho.

Chegaram ainda com ruídos ensurdecedores. Um deles teve a excelente ideia de ficar na casa e o outro, voltar e ligar para ela, assim tornariam as buscas mais fáceis e acertivas. Os ruídos permaneciam ecoando pelo imenso casarão, quando Dila, preguiçosamente estirou o braço e pegou o celular em cima do criado-mudo:

- Alô...

- Alguma novidade senhorita Dila? Algo a importuna. Até esse exato momento, ouvimos uma série de estrondos, barulhos parecidos tormenta, sinais de trovões. Agora silêncio absoluto. Está tudo bem?

No que o outro, feita a ronda e notando que não havia vivalma a ser ele nas áreas livres e demais ambientes, ouvindo a fala dela, espreitou o ouvido na porta do quarto pra captar o que dizia. Foi quando ouviu: "Está tudo bem, perfeitamente em ordem. Agradeço imensamente pelo apreço e trabalho exaustivo que foi lhes dado. Mas está tudo bem.

O que espreitava, entre sustos e desespero, por que não ouviu com clareza o que ela dizia, bateu-lhe à porta e logo foi adentrando:

- Com licença Senhorita Dila, estamos assustados e esse é o motivo d´eu entrar sem prévio aviso. Viemos acudi-la.

- Estava falando com Melgo por telefone. Fez a mesma pergunta, a qual dou-lhe a mesma resposta: está tudo sob os mandos de Deus. Agradeço e podes ir; durma em paz. Vou controlar-me. Se aqui estás, por favor queira fazer um chá de anis, camomila e funcho. Insônia, stress e ansiedade combinados resulta nisto. Pressinto que estou tornando-me PMD, o que leva-me a comer compulsivamente. Muito agradeço!

Chegou em casa e ligou para Melgo. "Embora seja ordem expressa de não adentrar sem ser chamado, estive falando com ela e está tudo bem. Disse que estamos à acudi-la para o que precisar".

- Não notei nada.

- Estava bastante pálida e ofegante. É o que vi, o resto...aparentemente tudo no lugar.

- Nada que preocupa, então? Deve ter sido a reação da feijoada que foi o cardápio de ontem e o que é habitual, a dispneia/apneia sei lá como é a palavra correta para o ruído de helicóptero lhe sai pela boca, em sinal de protesto a algo. Essa insônia ainda porá fim nela. Passe bem e bom fim de noite.

- Boa noite e como disse, está tudo no lugar. Agradeço pela presteza em auxiliar-me a acudi-la. Ah, atendendo seu pedido, fiz chá e deixei sobre o criado-mudo. Recomendei que ao tomar, massageie levemente a barriga com a mão aberta circulando sobre o abdome.

- Novamente, agradeço. Esperemos que o chá faça efeito; como é bom poder repousar sob a insígnia do silêncio da paz!

Mutável Gambiarreiro
Enviado por Mutável Gambiarreiro em 11/07/2015
Reeditado em 18/07/2015
Código do texto: T5306995
Classificação de conteúdo: seguro