JORRRRGCHE!

E chega aquela mulher linda de viver, cegando os olhos dos operários daquela obra no prédio de esquina daquela rua, no centro de Pelotas, assovios, piadinhas e tudo mais que cabe no calibre gentil, do vocabulário do operariado.

Então ela se apresenta.

- Meu nome é Suely, engenheira responsável por essa obra, de agora em diante, ficando claro que pra vocês que sou um homem, e assim deverei ser tratada, não sou nenhum dos adjetivos que acabei de ouvir, e quero uma reunião com o mestre de obras e todos vocês em dez minutos, ok?

A princípio eles estranharam a voz grave daquela deusa morena, muito alta e de corpo espetacular, mas, nada mais que indicasse que não fosse uma mulher por inteiro, mas, frisando bem, a voz era meio grave e firme, o andar era de uma gazela elegante, um espetáculo de mulher.

Severino Onofre, o mestre de obras, ficou encantado, quase não prestou atenção às tarefas que ela indicou na reunião, estava simplesmente flutuando de prazer. Os operários estavam extasiados, nenhum só tijolo fora colocado decentemente, sem que o serviço tivesse que ser refeito, a desatenção era total. A engenheira Suely já estava ficando irritada com isso, parou a obra e deu logo um chilique.

Desse jeito não dá, gritava, jogava de um lado para o outro os longos cabelos castanhos, cabelos pra lá e pra cá, rebolando escandalosamente, literalmente rodando a baiana, batendo alucinadamente, com uma canetinha fina cor de rosa e com um pomponzinho branco pendurado, em sua prancheta de trabalho. Os homens aturdidos, começaram a desconfiar que aquela gazela era uma frutinha de bagos, era melhor não contrariar a fera nervosa, ficaram quietos, e ouviram a bronca mudos, afinal, ela era a engenheira responsável pela obra.

No portão da obra entra um homem franzino, muito bem vestido, de terno caro, muito posudo, feiinho que só, e diz

- Sou o dono desse imóvel, algum problema por aqui, então, para o espanto de todos, Suely se dissolve toda e diz com sua voz grave.

- Jorrrrgche! está tudo bem, estou só dando as instruções necessárias para eles, e já vou amor!

- Jorge, diz então, ok! Antonio, resolve tudo agora, que teu homem tá te esperando cheio de amor, e sai andando na direção de seu carrão.

Foi impossível conter a gargalhada geral, Suely sai saltitando atrás do seu Jorrrgche, gritando, espera amor, espera amor!

É....a deusa caiu do pedestal, largando plumas, paetês e purpurina pra todo lado, foi difícil, continuar o serviço naquele dia, a algazarra que se instalou foi geral. Amanhã seria outro dia.

Cristina Gaspar
Rio de Janeiro, 19 de maio de 2015.

(SOU CONTRA A QUALQUER TIPO DE PRECONCEITO, É SÓ UMA PIADA)
Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 19/05/2015
Reeditado em 19/05/2015
Código do texto: T5247352
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