O BÊBADO TINHA RAZÃO.
 
 
 
                    O ônibus não estava lotado, mas também não viajava vazio. Na parte traseira, após a catraca e o cobrador estavam todos os passageiros sentados. E na parte da frente, tinham umas quatro ou cinco pessoas, dentre elas uma senhora muito distinta e bem vestida.
                    Numa determinada parada subiu um senhor de mais ou menos cinqüenta anos de idade, bem alcoolizado. Vendo que nos fundos não havia lugar para sentar-se optou por se acomodar no banco vazio ao lado da madame.
                    De repente os passageiros, motorista e cobrador sentiram um fedo próprio de pum. Desse bem caprichado que saiu no ar, quase que inocentemente. Quem o liberou o fez com sutileza. Automaticamente todos levaram as mãos para de alguma forma tapar o nariz, inclusive o bêbado.  O que se ouvia era apenas o ronco do motor do ônibus em movimento e o tradicional “hum” vindo de vários lados, até de algumas pessoas que estavam na parte traseira.
                    Aos poucos foram todos se acalmando, eis que novamente o odor indesejado invadiu a área. E desta vez bem mais forte. Então o bêbado não se conformando virou para a madame ao seu lado e falou do seu modo meio cambaleante e rouco:
          - Tia quebra o nosso galho. Desce do ônibus e vai a um banheiro rápido. Se não vão intoxicar todos aqui. Nossa!....
........... - O que é isso, seu bêbado mal educado. Como pode afirmar que fui eu quem soltou esse pum fedido?  O senhor é que deve ter soltado, pois está bêbado e nem tem controle do que faz. Foi o que respondeu a madame.
.......... - Foi a senhora sim tia. Garanto que se fosse eu teria cheiro de pinga, não acha? Respondeu o bêbado.
....................A madame ficou ruborizada, mas continuou firme no seu lugar, até que de repente outra vez o mau cheiro invadiu o ambiente. E o bebum levantou-se se escorando no varejão de suporte da catraca e falou alto pra todos ouvirem.
          - Tia se a senhora continuar fazendo pum assim no ônibus todos vão achar que sou eu só porque estou meio bêbado. Quebra o galho. Desce nessa próxima parada e vai ao banheiro.
                    E a madame morrendo de vergonha e de raiva ainda assim insistiu.
          - Motorista, pára esse ônibus e faz esse bêbado descer, pois ele está me ofendendo, dizendo coisa que não fiz.
                    O motorista pra não criar constrangimento com a madame parou o ônibus e sob protesto fez o bêbado descer. Assim ele desceu gritando:
          - Vocês vão ver a injustiça que estão cometendo. Essa madame é uma peidorreira e eu que pago o pato.
                    A viagem continuou sem o coitado do bebum. Passados mais uns quinze minutos o mesmo fedor voltou à tona e agora mais forte do que as outras vezes. E saindo do mesmo lugar. Então todos, até a madame, lembraram das ultimas frases do bêbado. Por isso o motorista com a voz alta também para que todos ouvissem, falou para o cobrador:
          - Ta vendo no que dá a gente acreditar nas madames? O bêbado tinha razão. Vocês não acham? Fiz o coitado descer e o fedor continua e bem pior. Cometi uma tremenda injustiça com para com ele.
          - Minha senhora, por favor, desça na próxima parada para não contaminar esse veículo e matar todos que precisam viajar.
                    Desta vez todos se puseram a rir. Foi uma só gargalhada.
                    Lembram da célebre frase: AS APARÊNCIAS ENGANAM? Cabe direitinho aqui.